Com mais de 850 mil unidades produzidas em um espaço de sete anos de carreira, a primeira geração do Peugeot 3008 foi um verdadeiro campeão de vendas da marca em todo o mundo, principalmente na Europa. Mesmo assim, ele foi bastante criticado logo de saída por seu estilo. O 3008 era, no mínimo, original. Mas o passar dos anos e uma reestilização o fizeram encontrar seu público. A chegada da segunda geração foi, portanto, tão ou mais aguardada que a do carro-conceito Peugeot Quartz. Ele, que adiantou o estilo do futuro SUV da marca do leão, foi calorosamente recebido no Salão de Paris de 2014.

Foi nas estradas da Toscana, na Itália, que a Peugeot nos convidou para assumir o comando do novo Peugeot 3008 em diferentes motorizações. Entre as versões disponíveis, focamos na 1.6 THP de 165 cv com câmbio automático de seis marchas (EAT6), a única que virá ao Brasil. Estrela do Salão de São Paulo encerrado há uma semana, o 3008 terá lançamento local no fim do primeiro semestre de 2017, segundo uma fonte da PSA.

 

Essai Peugeot 3008 II

Passado apagado

Já podemos dizer, sem enrolação, que o design não tem absolutamente nada a ver com a geração anterior. Mais esculpida, organizada e arredondada, a segunda geração do 3008 se "alemanizou", seguindo todos os atuais códigos estéticos da nova Peugeot. Os novos conjuntos ópticos dianteiro e traseiro têm uma identidade forte, aliados a uma grade dianteira proeminente, uma nova faixa preta brilhante que liga as duas lanternas traseiras e múltiplos vincos de carroceria que acentuam a agressividade do modelo.

Se a evolução geral é positiva, alguns elementos nos deixam céticos, incluindo a junção entre certas partes da carroceria que, por sua vez, mereciam tratamento mais germânico. Além disso, a faixa preta brilhante que liga as lanternas traseiras tem uma tendência a ficar marcada muito rapidamente, o que nos deixa preocupados sobre a evolução de sua aparência com o tempo.

Esteticamente, o carro é inegavelmente bem-sucedido, mas seu design não está necessariamente a serviço da segurança. Explicamos: a linha de cintura é alta demais (para dar aquele aspecto dinâmico e imponente), o que naturalmente afeta a área envidraçada. Como de costume, é o vidro traseiro que sofre mais, mas não apenas ele e sim toda a área lateral. A visibilidade é, portanto, o ponto fraco do novo Peugeot 3008, ainda que a marca incorpore elementos de auxílio a manobras, com câmeras para visão em 360 graus e sensores de estacionamento dianteiros e traseiros. Ao menos a Peugeot finalmente reviveu o teto solar e agora oferece esta opção em seu catálogo, em vez apenas do teto de vidro panorâmico fixo.

 

Essai Peugeot 3008 II

Experiência sem igual

Além de se destacar pela aparência exterior, o novo 3008 também se preocupou com o interior e com o i-Cockpit, agora em sua evolução mais recente. Os elementos básicos do i-Cockpit apresentados no 308 europeu estão lá, mas de uma forma inteiramente nova. Você ainda vai achar um volante pequeno, mas agora tanto sua base como a parte superior são achatadas. A alavanca do câmbio parece ter sido inspirada em elementos aeronáuticos (pelo menos no caso das transmissões automáticas), assim como os botões do tipo toggle switch para navegar pelas várias opções da tela central. Por fim, o painel é esculpido como se tivesse sido cortado a foice, com materiais de maior ou menor qualidade para revestir tanto o painel central quanto o das portas.

A grande novidade da Peugeot é a chegada, em vez de mostradores analógicos, de instrumentos 100 por cento digitais por meio de uma tela de 12,3". Assim, pode-se usar uma imitação dos mostradores convencionais, mas também visualizar a navegação, os dados ligados à direção (como consumo e autonomia), a gestão de sistemas de auxílio à condução e do telefone sem jamais desviar os olhos para a tela do console central. Curtimos muito os gráficos modernos que surgem a cada mudança de configuração.

Essai Peugeot 3008 II
Essai Peugeot 3008 II
Essai Peugeot 3008 II

No console central, encontramos uma nova tela sensível ao toque de 8" cuja forma e montagem nos fazem lembrar de um BMW. Felizmente, são apenas estes aspectos que lembram os sistemas da marca alemã, já que o próprio sistema evoluiu muito e o menu de navegação é agora mais agradável e fluido. Encontra-se facilmente a navegação padrão, bem como a parte de música, Bluetooth, comando dos sistemas de assistência ao condutor e do ar-condicionado. Outra novidade é a possibilidade de mudança da luz ambiente: modo "Boost", para uma condução mais agressiva, e "Relax", para quem não está com pressa.

Em termos de espaço interno, o 3008 fica na média do segmento. Ele tem um porta-malas de 520 litros (159 litros a mais do que o da primeira geração) e um belo espaço para as pernas em que meus 1,82 m se acomodaram sem problemas. Só sentimos falta de um banco traseiro deslizante, como o que é oferecido no novo Volkswagen Tiguan.

De um modo geral, o interior do 3008 proporciona uma experiência que nenhum outro carro hoje pode nos oferecer. É uma espécie de aliança entre uma boa sensação ao volante e o bem-estar na cabine por meio do uso de materiais e acabamentos de aspecto contemporâneo como madeira, tecidos ou cromado acetinado. Embora certos detalhes, materiais e montagens ainda decepcionem, dá para dizer que o contrato foi cumprido. A Peugeot se deu até ao luxo de oferecer um sistema opcional de áudio da Focal, de excelente qualidade de som e, além disso, francesa. O som que ele destila é cristalino e só satura de verdade em altos volumes. Está claramente acima de qualquer outro sistema de áudio oferecido pelos concorrentes diretos do 3008.

 

Essai Peugeot 3008 II

Um legítimo Peugeot

 
Com peso entre 1.250 kg e 1.465 kg em ordem de marcha, o 3008 é um dos pesos-pena entre seus pares. O crédito pela façanha é todo da plataforma modular EMP2, que permite um alívio significativo de peso e melhora bastante o comportamento dinâmico. Além disso, em todas as versões testadas, mesmo que o comportamento parecesse bastante distinto dependendo da versão, nós sempre encontramos pelo menos uma semelhança: a assinatura Peugeot de ajuste de suspensão.
Essai Peugeot 3008 II
Essai Peugeot 3008 II
Essai Peugeot 3008 II

Começamos a avaliação pela versão "proibida para nós", e a que mais vende na Europa, a turbodiesel de 120 cv que irá representar a maioria das vendas ao lado da versão a gasolina com motor 1.2 PureTech turbo, de 130 cv. Suave e forte desde baixas rotações, o carro lida razoavelmente bem com o uso convencional. As retomadas são boas, sem extravagância, e o câmbio manual do carro testado (também está disponível um automático para este motor) é bem acertado, com engates justos e precisos. Fomos condescendentes com ele por conta de seu consumo real, que girou em torno de 16,7 km/l, com emissões comunicadas em 111 g/km.

Já a versão equipada com o motor THP a gasolina foi particularmente decepcionante. Além do consumo de cerca de 11,1 km/l, este motor, cujo fôlego admiramos sob o capô do DS3 e do Peugeot 208, fica meio asmático no 3008. Adicione a isso uma transmissão automática que demora para trocar suas marchas e um ruído de motor onipresente na cabine. No final, o que se tem é um conjunto motor-transmissão pouco convincente. Vale dizer que a transmissão EAT6 está acostumada a prestar bons serviços, com trocas rápidas e suaves, mas, neste caso, ela não se dá bem com o THP de 165 cv.

Fora isso, não notamos nenhuma particularidade em relação à direção, bem calibrada. A frenagem é eficiente e sem sinais de cansaço, mesmo que não se iguale à de um Citroën C4 Picasso, por exemplo. Asperezas e solavancos das estradas da Toscana foram bem absorvidos. A suspensão, além de ser bem calibrada, não exagera no conforto e permite fazer curvas rápidas com pouquíssima rolagem de carroceria. Ela é bem controlada, mas não chega a ser tão firme quanto a da versão GT.

Na ausência de tração nas quatro rodas, a Peugeot oferece o Advanced Grip Control, um sistema de controle de tração que se adapta à aderência oferecida pela estrada com cinco modos: Normal, Neve, Off-Road, Areia e com ESP desligado. Hoje em dia, ele também é combinado ao HADC (Hill Assist Descent Control), que permite controlar a velocidade do carro em descidas muito íngremes em pisos de baixa aderência. Tivemos a oportunidade de experimentá-lo em um declive de 35%. Tudo que é necessário é parar o carro, tirar os pés dos pedais e se deixar transportar pelo 3008, que cuidará sozinho de todo o processo de descida.

 

Essai Peugeot 3008 II

 

A Peugeot assinou e reconheceu firma com seu novo 3008, que quer competir com as referências de mercado. No Brasil, a previsão de preço é de R$ 120 mil a R$ 150 mil, valor que o colocará diante de nomes como Jeep Compass, Kia Sportage e o novo Hyundai Tucson, só para citar os principais rivais. Pelo menos no que diz respeito ao estilo e cabine, o agora SUV 3008 parece bem preparado para conquistar seu espaço.

Fotos: Motor1 França

PEUGEOT 3008 1.6 THP 2017

MOTOR dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16 válvulas, 1.598 cm3, turbo e intercooler, injeção direta, gasolina
POTÊNCIA/TORQUE 165 cv a 6.000 rpm / 24,5 kgfm a 1.400 rpm
TRANSMISSÃO automática de seis marchas; tração dianteira
SUSPENSÃO independente McPherson na dianteira e eixo de torção traseira
RODAS E PNEUS alumínio aro 18" com pneus 225/55 R18
FREIOS  discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS e ESP
PESO 1.375 kg em ordem de marcha
DIMENSÕES comprimento 4.447 mm, largura 1.841 mm, altura 1.624 mm, entre-eixos 2.675 mm
PORTA-MALAS 520 litros
PREÇO ESTIMADO R$ 120 mil a R$ 150 mil
 

Galeria: Avaliação Peugeot 3008 2017

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