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Chery ressuscita a espanhola Ebro para driblar taxas de importação

Modelos derivados dos Tiggo reativam fábrica que foi fechada pela Nissan

Ebro S700, derivado espanhol do Tiggo 7
Foto de: Motor1.com

Enquanto fabricantes ocidentais anunciam prejuízos e o fechamento de complexos industriais, o grupo Chery está reativando uma fábrica abandonada pela Nissan em Barcelona, para montar SUVs com a marca espanhola Ebro, fora do mercado desde 1987. Mais do que apelo ao saudosismo, ressuscitar a empresa é uma maneira de driblar as crescentes taxas de importação que a União Europeia vem impondo aos carros chineses.

A Ebro reestreia com dois modelos, o S700 e S800, que têm como base os Chery Tiggo 7 e Tiggo 8. Já está prevista ainda a montagem do S400, derivado do Tiggo 4, e de um compacto. Fala-se também na produção local de SUVs da Omoda e da Jaecoo, marcas do grupo Chery.

Ebro S800
Foto de: Motor1.com

Ebro S800

Apesar de a joint venture responsável pela volta da Ebro se chamar EV Motors, os primeiros lançamentos não são elétricos puros, mas sim equipados com o motor 1.6 TGDI (turbo, com injeção direta). Além das versões somente a gasolina, haverá opções híbridas plug-in. 

Para os brasileiros, o nome Ebro não diz nada. Para os espanhóis, porém, é uma marca de muita tradição automotiva na produção de tratores, caminhões e utilitários. Foi criada há exatos 70 anos e remete aos tempos em que a Catalunha era o centro de uma forte indústria automobilística. 

Orgulho catalão

A história da Ebro começa em 1923, quando a Ford Motor Ibérica estabeleceu uma linha de montagem em Barcelona. Na década de 50, com a fundação da Seat e da Fasa-Renault - duas fábricas de automóveis apadrinhadas pela ditadura franquista - a Ford percebeu que não teria muito futuro no país e decidiu se desfazer da operação. 

Ebro C550 - até os anos 60, a empresa usava tecnologia Ford (folheto)
Foto de: Motor1.com

Ebro C550 - até os anos 60, a empresa usava tecnologia Ford (folheto)

O que restou foi uma companhia totalmente nacionalizada, a Motor Ibérica S.A., que, em 1954, lançou a marca Ebro (nome de um dos maiores rios da Espanha). A empresa produziria em Barcelona caminhões e tratores com projetos cedidos pela Ford britânica.

Com o passar do tempo, os laços com a Ford foram definitivamente desatados e a Ebro passou a ter acordos tecnológicos com a Massey Ferguson, que comprou parte da companhia. A Motor Ibérica cresceu e foi absorvendo outras fábricas espanholas de caminhões, ônibus, furgões (Fadisa-Alfa Romeo) e até a Viasa, que fazia o Jeep Commander em Zaragoza. Daí nasceram os Ebro Jeep, alguns deles com estilo bem particular. 

Ebro Jeep Campeador (cabine simples)
Foto de: Motor1.com

Ebro Jeep Campeador (cabine simples)

A expansão deu certo e, na primeira metade da década de 1970, a Ebro simplesmente quintuplicou suas vendas. Em um momento, chegou a ter 20 fábricas, com 11 mil funcionários. Havia linhas de produção até no Marrocos e nos Países Baixos.

A fase Nissan

Foi quando a Massey Ferguson achou que a operação já estava de bom tamanho e vendeu seus 36% de participação para a Nissan. A japonesa foi adquirindo mais ações até alcançar o controle da companhia espanhola, que passou a se chamar Nissan Motor Ibérica. A divisão de tratores foi vendida à nipônica Kubota, enquanto veículos com a marca Nissan foram ocupando cada vez mais espaço na linha de montagem. Em 1987, o nome Ebro foi tirado de cena.

Na fábrica de Barcelona, a Nissan Motor Ibérica produziu suas vans e minivans, além dos 4x4 Patrol, Terrano II e Pathfinder. Fez ainda o hatch Pulsar, parente do Tiida. O Brasil chegou a importar um produto da Nissan Motor Ibérica: a picape Navara, vendida aqui como Frontier LE, em 2006. Da unidade industrial também saíram os fracassados Renault Alaskan e Mercedes-Benz Classe X, irmãos da Navara/Frontier.

Ebro Patrol - início da fase Nissan
Foto de: Motor1.com

Ebro Patrol - início da fase Nissan

Em 2020, porém, a Nissan começou a fechar fábricas na Espanha para aproveitar melhor as sinergias com a Renault na França e em outros países. Além disso, a marca japonesa já tinha um grande centro de produção no Reino Unido. Em retaliação às demissões, o governo espanhol cortou subsídios. 

A Nissan Motor Ibérica acabou de vez em dezembro de 2021. Mas restavam 20% das ações da companhia com os donos da antiga Motor Ibérica S.A. — é daí que a Ebro está renascendo graças a uma união com a Chery, em um casamento arranjado pelo Ministério da Indústria espanhol.

Driblar alíquotas

A joint venture entre espanhóis e chineses foi criada em abril e se chama EV Motors. Esta semana, começou a montar o Ebro S700 em Barcelona. A Chery foi rápida em safar-se das rigorosas alíquotas impostas pela União Europeia aos carros chineses. Pelo mesmo motivo, a BYD está construindo uma fábrica na Hungria.

Ebro S700
Foto de: Motor1.com

Ebro S700

Inicialmente, a antiga fábrica da Nissan Motor Ibérica na Zona Franca de Barcelona terá uma linha de montagem da Ebro/Chery para "reindustrializar a região o mais rapidamente possível". Será pelo sistema Semi Knocked-Down (SKD), apenas terminando a produção de SUVs semidesmontados, importados da China, por meio de procedimentos que não envolvam pintura ou soldagem. Mas o grupo já está trabalhando em uma linha de produção para valer, com maior grau de conteúdo nacional, para que os modelos possam ser considerados europeus.

Os planos da nova Ebro preveem inaugurar 30 pontos de venda até o final deste ano e 75 até o final de 2025, distribuídos por todo o território espanhol. Como sonhar não custa nada, a joint venture planeja alcançar a produção anual de 50 mil até 2027, aumentando a meta para 150 mil unidades/ano até 2029. Ao chegar nesse ponto, a fábrica deverá ter 1.250 empregados. Também se fala em abrir um centro de engenharia e desenvolvimento em Barcelona.

Não é a primeira vez que uma chinesa revive uma marca europeia de um passado distante. Em 2017, a fábrica de veículos comerciais e utilitários Foton, de Pequim, participou de um projeto para relançar a alemã Borgward (1933-1963). A diferença é que as equipes de design e engenharia ficavam na Alemanha, e os carros eram exportados prontos da China. A iniciativa, contudo, não deu certo e a “nova Borgward” só durou cinco anos.

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