Opinião: VW puniu o único país onde a Amarok fez sucesso, a Argentina
VW lançou a nova Amarok II, que não será oferecida nem fabricada na Argentina, onde a picape fez sucesso
A Volkswagen revelou hoje a nova geração da Amarok, chamada de Amarok II, em todo o mundo. É a segunda geração da picape média da marca alemã. A nova Amarok II é um desenvolvimento global da Ford para a Volkswagen, baseado na nova geração Ranger, que será fabricada na Argentina a partir de 2023.
O plano de negócios inicial previa a produção da Amarok II na fábrica da Ford Argentina em Pacheco, como parte do acordo global chamado Projeto Ciclone. Entretanto, a parte argentina dessa aliança foi cancelada em abril de 2020. Mas de quem foi a culpa de a produção da nova Amarok no país vizinho ter sido cancelada? Por mais de dois anos, nenhuma marca deu uma explicação formal e concreta. Toda vez que perguntamos à Ford Argentina sobre isso, eles responderam: "a nova Ranger não foi cancelada na Argentina". Está confirmada e será produzida em 2023. Pergunte à VW por que a nova Amarok II não será feita na Argentina".
E após muitas respostas evasivas, foi somente em maio passado que o executivo argentino Pablo Di Si, presidente da VW América Latina, deu uma explicação oficial para o cancelamento da Amarok II no país vizinho: "Por enquanto, não estamos trazendo a nova geração da Amarok fabricada na África do Sul. Também não há planos para produzi-la localmente. O acordo com a Ford continua globalmente. No caso da Argentina, o projeto não foi encerrado para uma das partes. O acordo com a Ford está indo muito bem globalmente, mas aqui decidimos tomar um caminho diferente".
A declaração de Di Si foi feita durante o anúncio de um investimento de US$ 250 milhões pela Volkswagen em suas fábricas argentinas de Pacheco e Córdoba, para montar motos Ducati, desenvolver mais fornecedores locais para os Taos e realizar um facelift para a Amarok de primeira geração, que ocupará o lugar que a nova Amarok II deveria ter na região.
O anúncio do investimento foi apresentado como "boa notícia". E será sem dúvida uma boa notícia para os trabalhadores da VW Argentina, para sua rede de fornecedores e para os funcionários do governo que monopolizaram os discursos. Todos eles comemoraram o anúncio feito na fábrica de Pacheco naquele dia de maio.
Entretanto, o cancelamento da nova Amarok II na Argentina (e no Brasil por consequência) não é uma boa notícia para os consumidores. Foram os clientes argentinos que fizeram da Amarok I uma picape bem-sucedida. Foi um caso sem precedentes no resto do mundo: a Argentina foi o único país do mundo onde a caminhonete da VW atingiu o topo de alguns rankings mensais de vendas em sua categoria. Esses clientes argentinos foram os que consolidaram a Amarok no atual segundo lugar em termos de emplacamentos por lá.
Em nenhum outro país do mundo a Amarok foi tão vendida quanto na Argentina. A Ford Ranger (na Europa), a Nissan Frontier (na América Central) e a Toyota Hilux (globalmente) eclipsaram completamente as vendas da picape VW em todos os demais mercados onde a Amarok tinha apenas uma presença simbólica. A Volkswagen não ousou sequer oferecer a Amarok nos EUA, onde Toyota Tacoma, Ford Ranger, Jeep Gladiator e Chevrolet Colorado reinam suprema no segmento de médio porte.
Então por que a Volkswagen decidiu punir a Argentina, o único país onde a Amarok foi um sucesso, com o cancelamento da segunda geração? Os executivos da marca não explicaram, pois consideram o anúncio do investimento para produzir um facelift da já veterana Amarok I, lançada em 2010, como uma boa notícia em vez de oferecer um produto mais moderno, tecnológico, confortável, seguro e eficiente, como a própria VW descreveu a nova Amarok II hoje.
Entretanto, em um segmento tão competitivo como o das picapes médias, o fato de uma marca decidir adiar a renovação completa de um produto por pelo menos dez anos não pode ser interpretado como uma boa notícia. Muito menos será interpretado desta forma pelos clientes que uma vez apostaram na Amarok, que já foi a caminhonete mais inovadora do mercado.
Portanto, quando se trata de renovar suas picapes, estes usuários da Amarok I terão apenas duas alternativas: comprar uma reestilizada, porém sem os avanços tecnológicos que mercados onde a picape nunca foi protagonista receberam, ou eles podem mudar para um veículo concorrente.
É um paradoxo porque foram eles, os compradores argentinos, que fizeram da Amarok um verdadeiro sucesso em apenas um país do mundo: a Argentina. VW Argentina, o sindicato e o governo podem considerar o cancelamento local da Amarok II como uma boa notícia. Será difícil para os consumidores aceitarem essa história.
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