AUTOMOTIVE BUSINESS - Opinião

O primeiro bimestre mostrou um início de 2020 fraco para a indústria automotiva, com leve desempenho negativo de 1% nas vendas domésticas e forte retração em exportações (-11,2%) e produção (-13,4) na comparação com igual período de 2019. Mas os fabricantes de veículos reunidos na Anfavea avaliam que os resultados são “normais”, eram esperados, e que nos primeiros cinco dias de março o mercado brasileiro já deu mostrar de recuperação, voltando a convergir para as projeções da entidade. O problema é o que vem agora.

Existem nuvens carregadas no horizonte. A epidemia de coronavírus golpeia com força a economia global, enquanto a guerra de preços do petróleo parece ser o prego que faltava para fechar o caixão do ano. Os dois fatores combinados derreteram os mercados neste início de março – na segunda-feira, 9, o índice da bolsa brasileira teve a maior queda porcentual diária (-12%) desde 1998 e o dólar subiu a R$ 4,72.

Os fatores negativos externos enfraquecem a já frágil economia brasileira, que em 2019 cresceu só 1,1% e nada indica que terá mais força este ano com os alarmantes níveis de desemprego e subemprego, com poucas previsões de recuperação na medida necessária para reaquecer o consumo.

Some-se a isso as mazelas locais, turbinadas pelos constantes ruídos políticos vindos de Brasília que só aumentam a instabilidade e causam incerteza. São fatores que juntos podem transformar mau tempo em tempestade perfeita.

SEM RECUPERAÇÃO NEM SALÃO

Houve motivos razoáveis para justificar o fraco desempenho da indústria de veículos no primeiro bimestre. Agora, a recuperação do início de março pode ser interrompida pelas instabilidades globais e locais, pode ter sido só um soluço passageiro, causado pelo natural represamento dos emplacamentos, que ficaram parados durante o carnaval e retomados logo após o feriado.

Antes mesmo do caos econômico global da segunda-feira, 9, a Anfavea admitiu que a falta de peças da China e possivelmente de outros países também afetados pelo coronavírus deverá causar problemas às linhas de produção brasileiras – só não se sabe ainda em qual intensidade o problema aportará por aqui.

E os bancos começaram a estragar o único fator que contribuiria para incrementar as vendas de veículos no varejo este ano: voltaram a aumentar as taxas de juros dos financiamentos, em movimento classificado como “inexplicável” pela Anfavea, tendo em vista a esperada queda da taxa básica (Selic) para baixo dos 4% ao ano. Mas pode não ser tão inexplicável assim. Normalmente, juros ao consumo sobem na mesma medida das incertezas, ou da visão que o futuro tem grande risco de ser pior que o presente.

Salão do Automóvel

Mais “nervosa” às intempéries, a taxa de câmbio costuma ser a primeira a apontar tal risco. Boas notícias apreciam a moeda, as más depreciam. No caso brasileiro, o real foi a moeda que mais perdeu valor no mundo este ano: a cotação saiu de R$ 4,00 por dólar no início de janeiro para R$ 4,60 dois meses depois. Para falar do prejuízo que essa alta representa só para a indústria automotiva, a Anfavea calcula que até agora o impacto destes R$ 0.60 significa custo extra anual de R$ 8 bilhões, considerando as importações de componentes do setor que somam cerca de US$ 13 bilhões por ano. Isso se nada piorasse, como é o caso da cotação de 4,72 desta semana, que elevaria a perda anual em mais R$ 1 bilhão, para R$ 9 bilhões.

Os prejuízos ainda não superados pela recuperação insuficiente fizeram outro fator negativo se apresentar no horizonte: o adiamento de novembro deste ano para 2021 do Salão do Automóvel de São Paulo, que ficou sem data para acontecer e de certo já tem desistências confirmadas (!). Em passado recente, os dirigentes da indústria sempre disseram que as novidades apresentadas no evento serviram para aquecer as vendas. Em resumo, anos de salão eram bons para o mercado. O problema é que este ano faltou dinheiro para investir em novos produtos e gastar alguns milhões de reais com a exposição. Assim preferiu-se culpar o formato do evento e seus altos custos do que admitir a fraqueza do caixa – que não pode ser mais socorrido pelas matrizes, agora comprometidas com investimentos bilionários em novas tecnologias.

Sem esse céu escuro que se apresentou no horizonte, as condições brasileiras já contraditavam o crescimento em torno de 9% do mercado brasileiro de veículos, conforme as projeções divulgadas pelas entidades representativas de fabricantes e distribuidores. Com a tempestade global se avizinhando, tudo fica incerto – para pior.

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