Agora é oficial. A Volkswagen anunciou na manhã desta sexta (10) a assinatura de um Memorando de Entendimento (MoU, ou memorandum of understanding, em inglês) sobre uma parceria de longo prazo entre as empresas que será encabeçada pela Skoda. Pode parecer que o Brasil não tem nada a ver com o pato, mas não se engane: podemos ser profundamente afetados por este acordo.

Leia também:

O máximo de informação que vem na divulgação oficial é que o acordo "forma a base para explorar uma cooperação estratégica de longo prazo em campos claramente definidos". Mas, por sorte, sabemos exatamente quais campos são estes: plataformas e elementos elétricos. Se tem pouca informação, o release tem grandes promessas.

 

 

"Nosso objetivo com essa parceria estratégica com a Tata Motors é criar as fundações no grupo e nas marcas que vão nos permitir oferecer soluções de mobilidade orientadas aos clientes em mercados automotivos emergentes e de crescimento rápido, assim como em outros. Ao oferecer os produtos apropriados, queremos atingir crescimento sustentável e lucrativo em partes muito diferentes do mundo. É por isso que estamos perseguindo nossa estratégia de crescimento regional", disse Matthias Müller, CEO da Volkswagen. Isso parece claro o suficiente, mas a gente traduz.

 

VW signs agreement with Tata to use AMP

 

A Volkswagen criou plataformas modulares para ter uma tremenda economia de escala. A MQB é o exemplo mais popular dessa estratégia. O problema é que isso funciona na Europa, na China e nos EUA, mercados de alto poder aquisitivo e volumes altos de vendas. Mercados emergentes, como o Brasil, têm volumes menores e uma turma com renda per capita muito baixa. Não adianta querer vender Golf para que só consegue comprar Gol. E é aí que a Tata entra.

 

 

Indianos são famosos por criarem soluções de baixo custo para problemas graúdos. Em 2013, os cientistas do país mandaram a Marte o satélite Mangalyaan pelo equivalente a US$ 75 milhões. Um programa da Nasa gasta 10 vezes mais. O filme "Gravidade" custou US$ 100 milhões. Em suma, eles sabem fazer o mesmo por menos. E é esse o interesse da Volkswagen na Tata.

 

VW signs agreement with Tata to use AMP

 

A empresa anunciou recentemente a AMP, ou Advanced Modular Platform (plataforma modular avançada). Ela pesará 170 kg menos do que as plataformas que a Tata usava antes e já está preparada para eletrificação e hibridização. Com 15 módulos, ela permitirá criar SUVs, sedãs, hatchbacks e crossover de diferentes tamanhos sobre a mesma estrutura. A custo baixo, que é o que a Volkswagen precisa para que seus carros não "valorizem" mais do que o razoável, como anda acontecendo com os fabricados no Brasil. Lembre-se do caso recente da nova geração do VW Gol, que teve de se transformar em Polo (e em Virtus, sua versão sedã) porque a plataforma MQB A0 era cara demais.

VW signs agreement with Tata to use AMP

A Tata está para mostrar o primeiro modelo criado sobre a AMP, o projeto X451, que será chamado de Nexon. Antes que você ceda à tentação de dizer que o carro é uma porcaria e por aí afora, pense que a Volkswagen não se meteria em barca furada, o que equivale a dizer que fez um estudo sobre a AMP e avaliou sua viabilidade pelos padrões de qualidade que normalmente exige. A não ser que tenha baixado esses padrões para clientes de países emergentes...

 

VW signs agreement with Tata to use AMP

 

A Tata ganha com acesso às tecnologias da Volkswagen, especialmente as de componentes e sistemas elétricos, em acesso a novos mercados e em volumes. A AMP só vai se pagar em termos de desenvolvimento se der origem a uma série de veículos. E quem melhor para ajudar nisso do que a maior fabricante de carros da atualidade. Outra: a Tata quer vir para o Brasil há anos, além de entrar em outros mercados nos quais ainda não atual. Se sua plataforma já estiver nestes lugares, o processo fica bastante facilitado.

 

VW signs agreement with Tata to use AMP

 

Os carros da Tata poderiam ser fabricados em plantas da Volkswagen, que também se beneficiaria por uma ocupação mais alta de sua capacidade produtiva. A parte de distribuição e assistência fica com a indiana. É ou não é um negócio da Índia?

 

 

O acordo da VW com a Tata também inclui motores, já que os atualmente fabricados pela VW seriam caros demais para muitos mercados. Com plataforma e mecânica comuns, os custos das duas marcas seriam bem mais baixos do que se estivessem sozinhas.

 

VW signs agreement with Tata to use AMP

 

Ainda que o começo do desenvolvimento seja apadrinhado pela Skoda, com modelos da marca tcheca, que é bastante popular na Índia, o acordo parece o embrião da marca de baixo custo que a Volkswagen prometeu para a China em 2019. A Skoda desenvolve e a nova submarca lança. Adivinha para quando os novos modelos VW com plataforma AMP estão previstos? Para 2019...

 

VW signs agreement with Tata to use AMP

 

Aguardemos os desdobramentos do acordo. E se a Volkswagen não arruma treta com a Tata, como arrumou com a Suzuki. Se a coisa progredir, você talvez dirija, dentro de alguns anos, um Tata com a marca Volkswagen. Ou um VW com a marca Tata.

Fotos: divulgação

Galeria: VW assina acordo com a Tata para usar a AMP

Envie seu flagra! flagra@motor1.com