Se teve uma coisa que fiz ultimamente foi dirigir os novos "SUVs" que vêm inundando o mercado brasileiro. Desde janeiro andei no Hyundai Creta, no Chevrolet Tracker, no Jeep Renegade, no Nissan Kicks, no Honda HR-V, no Renault Captur e, mais recentemente, no Honda WR-V. Todos com visual parrudinho e altura do solo elevada, para se distanciar do chão e colocar seu dono em evidência - sim, eles são os carros da moda, e a marca que não participar deste segmento está perdendo dinheiro.

Só que o "boom" desses modelos tem feito vítimas. Em nosso mercado com orçamento limitado, não adianta ter muita oferta de modelos que não sejam SUVs e estejam na mesma faixa de preço deles. As peruas foram as primeiras a minguar. Na seara dos R$ 100 mil, apenas a VW Golf Variant ainda é vendida no Brasil - e talvez justamente pelo fato de a Volkswagen ser uma das poucas a não ter um SUV compacto, que só chegará nos próximos anos. A carência das chamadas station-wagons já incentivou até campanhas do tipo "Salvem as peruas!", mas o fato é que as peruas não subiram no telhado. Elas apenas subiram no salto.

 

captur x kicks

 

Não entendeu? Eu explico: o que tem de utilitário-esportivo um carro com plataforma de hatch compacto com tração dianteira e suspensão elevada? Nada. No máximo a capacidade de transpor mais tranquilamente os buracos da cidade ou a estradinha de terra do sítio. Então, esses novos SUVs, a meu ver, não passam de peruas de salto alto.

Espaço, liberdade de movimentos, facilidade de acesso e amplo porta-malas. Em geral, esses fatores costumam estar na lista das prioridades de quem compra uma perua - e, salvo pela capacidade de bagagem limitada em alguns casos, também agradam aos compradores desses novos SUVs. Outro dia indaguei um amigo que estava para comprar um HR-V o porquê de ele não comprar um Civic. Ele respondeu na hora: "Praticidade. No HR-V eu coloco meu filho na cadeirinha do banco de trás quase sem me abaixar. A 'boca' do porta-malas também é bem maior, facilita a colocação e retirada de carga. Fora isso, o espaço interno é mais amplo, o teto do Civic é muito baixo." Pois é, faz sentido.

Na perua ele teria a "boca" grande do porta-malas, mas não o teto alto que amplia o espaço e nem a facilidade da altura do solo para o acesso à cabine. Antigamente, a gente podia alegar que os SUVs eram grandalhões, desajeitados para dirigir e beberrões. É verdade, mas isso não se aplica a esses SUVs compactos de hoje em dia. Como eu disse antes, eles usam base de carro de passeio, são leves e muitas vezes trazem suspensões muito bem acertadas. Ou seja, não têm nada a ver com a dirigibilidade dos velhos SUVs com chassi separado da carroceria.

 

 

"Ah, mas eles não têm a tocada de uma Golf Variant", você pode alegar. Sim, mas aí é uma coisa que só quem realmente gosta de dirigir vai levar em consideração. Porque, no geral, os novos SUVinhos curvam com quase a mesma competência de um hatch - ou perua, no caso dos mais longos. Então, eu diria que eles são as novas peruas, eles são os carros das novas famílias.

Quem está sumindo, esses sim, são os verdadeiros SUVs - aqueles legítimos com chassi de longarinas, tração 4x4 e reduzida. Tipo os "sobreviventes" Chevrolet Trailblazer e Toyota SW4.           

 

Galeria: SUVs x peruas

Foto de: Redação
Envie seu flagra! flagra@motor1.com