Até pouco tempo atrás, Fiat e Volkswagen brigavam ferrenhamente pela liderança de vendas do mercado brasileiro. De repente, a Chevrolet deu uma acelerada forte em seu portfólio e emplacou a liderança no varejo, depois conquistou com o Onix o cobiçado título de carro mais vendido do país e fechará 2016 na liderança como a marca mais vendida, com mais de 30.000 carros à frente da Fiat. Correto? Do ponto de vista de marcas, sim, mas a FCA deu uma nova leitura a este cenário.
Com direção única no Brasil para as marcas Fiat, Jeep, Chrysler, Dodge e RAM, a FCA diz estar contando os dias para se tornar, pela segunda vez, a líder de vendas no país. Para isso, a empresa soma os números de todas as suas marcas, o que totalizava mais de 343.000 unidades no acumulado de janeiro até a última quarta-feira (14). Ou seja, cerca de 18.000 unidades à frente da GM.
O que pode parecer "contabilidade criativa" é, na verdade, o próprio método de contagem da Anfavea. Na carta divulgada pela entidade, a FCA aparece com todas as suas marcas, da mesma forma que a PSA aparece com Peugeot e Citroën, HPE com Mitsubishi e Suzuki, BMW com Mini e assim por diante.
Nesta soma, além dos veículos de passeio, também foram considerados os comerciais leves. Assim, a GM (que por aqui trabalha apenas com a marca Chevrolet) figuraria na segunda colocação, com 325.656, e a Volkswagen aparece em terceiro, com 215.779. Mesmo se usarmos o mesmo ponto de vista para a Volkswagen e somarmos os números da Audi, embora as duas empresas tenham operações e direções independentes por aqui, o grupo alemão continua em terceiro, com pouco mais de 226.000.
A explicação para esta nova abordagem está na estratégia da FCA. O objetivo da empresa agora é oferecer um portfólio de modelos que se complementa entre as marcas. Mesmo com a queda de participação de mercado da Fiat como marca, os resultados para a FCA foram extremamente positivos. Positivos e rentáveis, algo que não acontecia há um bom tempo. Isso seria reflexo do planejamento assertivo de lançamentos, com oferta de modelos para os principais segmentos do país: hatchbacks compactos, picapes e SUVs.
Em coletiva de imprensa realizada na sede da FCA em São Paulo, o diretor comercial, Sergio Ferreira, apontou o sucesso da nova estratégia.
A empresa, por exemplo, ainda detém a liderança do segmento de hatches compactos 1.0, que representa cerca de 40,2% do mercado em unidades vendidas. Nele, os resultados vêm da Fiat com os modelos Uno, Palio e Mobi.
O segmento de picapes, responsável por 13,2% do mercado brasileiro, já tinha a Strada como líder desde o ano 2000. Com o lançamento da Toro, a Fiat ampliou a liderança com folga. De acordo com Ferreira, a Fiat até tinha uma preocupação com uma possível canibalização entre as duas picapes, mas isso não aconteceu. O resultado foi a manutenção da liderança do segmento, com participação superior a 40%.
O sucesso também é visível no segmento que mais cresceu nos últimos anos: o de SUVs. Para se ter uma ideia desta evolução, as vendas de SUVs representavam apenas 6,2% do total de veículos vendidos no Brasil em 2010. Em 2015, este número subiu para 12,5% e vai fechar 2016 em 14,9%. "SUVs vão continuar crescendo no Brasil", disse Ferreira. Para o executivo, as características do mercado brasileiro indicam que poderemos chegar à média mundial de 20% e até passar, chegando a 22% do mercado.
É neste cenário que a Jeep entra em cena. De marca com pouca participação e que vivia somente de importados no Brasil, ela ganhou musculatura com a FCA, inaugurou uma moderna fábrica em Pernambuco, com capacidade para produzir 250.000 veículos por ano, e lançou dois modelos que já estrearam fazendo sucesso. Renegade e Compass somados podem fazer a Jeep abocanhar a liderança do segmento mais quente do mercado. Para isso, basta colocar, até o fim deste mês, pouco mais de 900 unidades de vantagem sobre a Honda.
Com a chegada do Compass, a expectativa da Jeep não é nada modesta. Prevendo produção de 30.000 unidades do Compass e de 50.000 do Renegade, a FCA quer se tornar em 2017 a empresa líder em SUVs na América Latina.
Sobre o futuro, a FCA acredita que o fundo do poço foi atingido em 2016. Para 2017, a expectativa é que o mercado automotivo fique no mesmo patamar deste ano, com vendas na casa dos 2 milhões de unidades. "Se tiver crescimento, será modesto, de cerca de 1%", aposta Ferreira. Mesmo neste cenário conservador, a FCA prevê um crescimento de suas marcas acima da média da concorrência.
Fotos: Rafael Munhoz e divulgação