Garagem CARPLACE#3: HR-V e Renegade miram o mesmo alvo com armas diferentes
Em nosso primeiro comparativo envolvendo o Honda HR-V, ele não teve muita dificuldade de se impor sobre os já estabelecidos EcoSport, Duster (com leve redesenho) e Tracker. Faltava, porém, a comparação direta com o principal rival, o Jeep Renegade, que na época ainda não estava disponível para testes na versão 1.8 Flex automática. Pois agora que estamos passando um mês com o crossover da Honda em nosso Garagem CARPLACE, enfim colocamos os dois frente à frente: com vocês, HR-V EXL versus Renegade Longitude.

Como dissemos no início da nossa avaliação de 30 dias, o modelo da Honda é o atual queridinho do mercado e está com vendas bem aquecidas: são cerca de 5 mil unidades mensais já no início da trajetória, o suficiente para desbancar o líder de vários anos EcoSport. Todavia, o HR-V foi superado pelo Renegade nesta primeira quinzena de julho, o que indica que a briga entre os dois deve ser acirrada nos próximos meses.

Apesar da briga pela liderança, os rivais têm origem e concepção bem diferentes. O modelo de origem japonesa aposta num design esportivo e moderno, amplo espaço e mecânica eficiente. Por outro lado, o carro de origem norte-americana investe na construção mais robusta (ganhou 5 estrelas no Latin NCAP e de quebra se tornou o carro mais seguro feito no Brasil), no recheio e num estilo que carrega o DNA da Jeep.

Em termos visuais ambos agradam, mas cada um do seu jeito: o HR-V tende a ser mais unânime, mas não tem tanta personalidade quanto o rival - apesar de ambos serem carros de famílias pequenas, o Renegade tende mais ao público jovem. Entre os diferenciais, o Honda tem a maçaneta da porta traseira embutida na coluna e o Jeep possui várias referências da marca espalhadas pelo veículo, os chamados "Easter Eggs".

Sentado no banco do motorista dá pra sentir logo de cara um pouco da personalidade de cada um. O HR-V se destaca pelo console elevado (ele é vazado, outra novidade no segmento), boa ergonomia e ótima visibilidade, apesar da posição de dirigir relativamente baixa para a categoria. Além disso, chamam a atenção os revestimentos de portas retos e o acabamento sem grandes firulas. O painel de instrumentos tem efeito 3D, mas é de aparência simples, no que também contribui a ausência de material macio na parte superior do painel. No Renegade a impressão é melhor: volante mais grosso, material emborrachado no painel, revestimento das portas mais elaborado e quadro de instrumentos bem mais atraente (como opcional pode receber a tela de 7" no cluster). Todavia, com sua frente mais alta e colunas largas, a visibilidade não é tão boa como no Honda.

Falando de espaço interno, o Jeep é adequado inclusive para quem vai atrás. Só que o HR-V vai além: a cabine é muito ampla e mesmo com os bancos dianteiros completamente recuados, ainda há espaço de sobra para pernas no banco traseiro, apesar do passageiro que vai no meio ficar numa posição incômoda. Outra vantagem do Honda é a versatilidade, pois o banco traseiro possui o sistema ULT, que permite levantar o assento inteiro. No quesito porta-malas, larga vantagem: 437 litros do Honda contra apenas 260 l do Jeep, o que deixa o Renegade no mesmo patamar de hatches compactos - em parte culpa do estepe "real" com roda de liga leve aro 18 (curiosamente, o modelo europeu vem com um kit reparador de furos e entrega 351 litros de capacidade).

Em termos de equipamentos, os dois trazem de série comodidades como freio de estacionamento elétrico, controle de cruzeiro, câmera de ré, rebatimento dos retrovisores e controles de estabilidade e tração. O HR-V tem quatro airbags e o Renegade apenas dois, mas com como opcional pode receber até sete bolsas infláveis. Ambos têm ar-condicionado digital, mas apenas o do Jeep é dual zone.

Ainda há volante multifuncional e sistema multimídia com tela sensível ao toque, também comum aos dois. No HR-V é o mesmo lançado no Civic 2016, que traz GPS, tela de 7", Bluetooth, USB, HDMI e espelhamento para celular e roteador para conexão à internet. A vantagem do Renegade é a conexão auxiliar, além dos comandos de voz e a qualidade superior do sistema de áudio, que possui tela de 6,5" (de série é a tela de 5", como no Fiat Bravo).

Bem mais recheado, só o Jeep pode ter itens como acesso remoto e partida por botão, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, computador de bordo bem mais completo (com indicador de pressão dos pneus, carga da bateria, temperatura dos óleos), alerta de pontos cegos, retrovisor interno fotocrômico, faróis com acendimento automático (a versão testada trazia o pacote com faróis de xenônio), teto-solar, sensor de chuva e Park Assist. Mas isso tudo é opcional e eleva o preço do Longitude além dos R$ 100 mil...

Logo na primeira acelerada o HR-V agrada. A boa resposta do motor e o acelerador bem calibrado, que somados à direção leve e precisa, boa ergonomia e visibilidade o tornam um carro fácil de dirigir no dia-a-dia. Em subidas mais fortes, no entanto, o ronco áspero do motor incomoda um pouco. Aliás, é o mesmo do Civic, o 1.8 16V i-VTEC flex de até 140 cv e 17,4 kgfm, suficiente para a proposta (em nossos testes superou o rival com larga vantagem nas retomadas e ainda foi cerca de 3 segundos mais rápido na aceleração de 0 a 100 km/h). Seu ajuste da suspensão é um pouco mais firme que a média (típico Honda), mas ainda aceitável, principalmente diante do ganho em dinâmica: a carroceria inclina pouco nas curvas e se mantém equilibrado nas frenagens fortes.

Na estrada o HR-V acompanha bem o fluxo: o câmbio automático CVT, por vezes taxado de "sem sal", cumpre seu papel e garante baixa rotação em velocidade de cruzeiro (apenas 1.600 rpm a 100 km/h e 2.000 rpm a 120 km/h) e faz o motor subir facilmente de giros, e sem vibrar muito. Se precisar de respostas mais prontas, dá pra usar o modo S. Somente esta versão EXL tem borboletas para trocas manuais (com sete marchas virtuais) atrás do volante, com o CVT simulando sete relações pré-definidas - o que dá um certo tempero à condução.

O Renegade se mostra um carro mais robusto. Agradável na cidade, ele se destaca pelo ótimo acerto de suspensão. É mais preciso e confortável em pisos ruins (atropela lombadas sem dó) e ainda bastante estável. A sensação é de um carro mais "na mão" e bem assentado. Todavia, o pedal do acelerador é pesado e tem curso mais longo, o que se torna cansativo depois de um tempo.

Bem mais pesado que o Honda e equipado com o "repaginado" motor 1.8 16V E.torQ flex de até 132 cv e 19,1 kgfm de torque, o desempenho do Jeep é de hatch 1.0 nesta versão automática: ele se "arrasta nas saídas", apesar do torque maior, levando longos 13,8 segundos para chegar aos 100 km/h em nosso teste. Também nas retomadas a preguiça é grande, o que se traduz em menos fôlego nas ultrapassagens. O câmbio automático de seis marchas também possui borboletas atrás do volante para as trocas manuais, fazendo bem seu serviço com trocas suaves e espertas - o motor é que não ajuda. No mais, a Jeep fez um ótimo trabalho de isolamento acústico e de vibrações, de modo que mesmo em altas rotações o ronco do motor (que também não é muito suave) e ruídos de rodagem invadem pouco a cabine - a 120 km/h, por exemplo, viaja-se com conforto de carro de categoria superior.

O ponto fraco mais evidente é mesmo o motor 1.8 e-Torq, insuficiente para o peso do Rengade. Sobre essa questão, nossa reportagem apurou que a FCA já está trabalhando em um novo motor 2.0 16V Tigershark, que deve equipar o utilitário nas versões intermediárias a partir de 2016. Outro ponto que deve ser revisto é o elevado volume dos alertas de estacionamento e também do alarme ao trancar/destrancar o carro. Mesmo configurado no mínimo, o alerta é estrondoso e irritante. No HR-V, além da falta de mais "mimos", estranhamos o uso de palhetas de limpador ainda tradicionais (sem ser do tipo rodinho como na maioria dos carros novos) e o terceiro cinto de três pontos fixado no teto.

Na versão avaliada, a de topo EXL, o Honda custa R$ 90,7 mil. Já o Renegade Longitude parte de R$ 80,9 mil e chega aos R$ 106.320 com os itens adicionados ao modelo testado: pacote luxo (R$ 3,5 mil), pacote tecnologia 2 (R$ 14,7 mil) e teto-solar panorâmico (R$ 6,7 mil). Mais barato na configuração padrão, com os opcionais o Jeep acaba ficando bem mais recheado (e mais caro) que o HR-V. Todavia, descontando itens que o rival não possui, como o teto-solar, os preços ficam próximos e o Jeep leva vantagem nos equipamentos.

Ambos são SUVs compactos de vocação prioritariamente urbana, mas é nítido que a Honda projetou o seu carro de olho num público mais amplo, enquanto a Jeep não abriu mão do visual e DNA off-road mesmo nas versões 4x2. Se a prioridade for espaço, desempenho e dirigibilidade, a opção tende ao HR-V. Por outro lado, quem valoriza mais recheio, segurança, acabamento e design único deve caminhar para o Renegade.
Por Julio César
Fotos: Rafael Munhoz














