A casa da VW anda bagunçada no Brasil. Correndo atrás das vendas perdidas nos últimos anos, a empresa admitiu alguns erros de estratégia e vem tentando, aos poucos, deixar seus modelos mais competitivos perante à concorrência. Veja o caso do Jetta, que era motivo de bullying na versão de entrada (equipada com o velho motor 2.0 8V) e agora se torna um dos melhores da categoria com o novo propulsor 1.4 TSI. "Mudou da água para o vinho", dissemos na primeira avaliação do modelo.
Teste CARPLACE: novo VW Jetta 1.4 TSI desafia o
A subida na moral do Jetta coincide com outro movimento dentro do Grupo VW por aqui: a produção do Audi A3 Sedan no Paraná, ao lado do Golf 7. A nacionalização veio acompanhada de "adaptações para deixá-lo mais ao gosto do consumidor local" - leia-se reduções de custo. O A3 brasileiro é o único Audi no mundo com câmbio Tiptronic de seis marchas (no restante mantém o S-Tronic/DSG de sete velocidades), além de adotar suspensão traseira por eixo de torção e um novo acerto de molas que lhe rendeu 15 mm extras de altura livre do solo. Isso na versão com motor 1.4 TSI, o mesmo que acaba de estrear sob o capô do Jetta - só que somente a gasolina no VW.
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Sacou a confusão? Vamos resumir: o Jetta, que em teoria seria o sedã médio "de massa" da empresa, tem suspensão mais refinada que a do Audi, mas não aceita etanol (o combustível brazuca). Já o A3, que ocupa o posto de sedã médio premium do Grupo, recebeu a injeção flex, mas perdeu o câmbio de dupla embreagem e o eixo traseiro independente. Acabou que ambos se cruzaram na tabela de preços. Enquanto Jetta Comfortline começa em R$ 90.890, o A3 Sedan parte de R$ 99.990 na versão Attraction. Mas basta rechear o VW com equipamentos para superar o preço base do Audi. E instaurar a dúvida na cabeça do cliente: em vez do Jetta, não vale pagar um pouco mais e levar logo o A3? Seria apenas uma questão de imagem? Juntamos os dois e fomos investigar!
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Começando pelo Jetta, dirigir o novo 1.4 TSI faz parecer que o antigo 2.0 aspirado nunca existiu. O motor de 150 cv e 25,5 kgfm deu a vida que o sedã sempre mereceu. E nem precisa pisar fundo para perceber isso, pois o torque máximo é entregue logo a 1.500 rpm e deixa tudo mais fácil: saídas de semáforo, subidas e ultrapassagens, entre outras situações. Nossas medições deixaram clara a vantagem não só em relação à versão antiga, mas também na comparação com os principais rivais. A aceleração de 0 a 100 km/h, por exemplo, baixou de cerca de 13 segundos para bons 9,5 s, enquanto a retomada de 80 a 120 km/h precisou de 8,4 s. E isso com consumo comedido, registrando médias de 10,7 km/l na cidade e 15,6 km/l na estrada - lembrando que o Jetta só aceita gasolina.
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Mas nem tudo são flores. No anda-e-para do trânsito, e também ao sair de lombadas e valetas, nota-se uma certa hesitação na aceleração. É um piscar de olhos, mas que incomoda e faz você pisar mais fundo, o que ocasiona um tranco. Ao que parece, o conversor de torque do câmbio recebe a energia do motor e demora um pouco para processá-la. Passando para o modo Sport da transmissão, esta sensação melhora bem, mas ainda não desaparece. Outro sintoma de que falta um pouco de entendimento entre motor e câmbio é que, mesmo em Drive, muitas vezes o Jetta segura a marcha desnecessariamente. Isso era preciso para acordar o antigo motor 2.0, mas agora com torque de sobra em giro baixo virou gasto de combustível à toa.
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Passando ao comando do A3, percebemos que o papo entre motor e transmissão é mais reto. O Audi responde prontamente ao comando do acelerador, sem vacilos. Na prática, parece que o A3 em Drive é o Jetta em modo Sport - a diferença é nítida! Também gostamos dos bancos do Audi, mais aconchegantes e macios, e da posição de dirigir, que "veste" o motorista. Fora isso, o acabamento caprichado justifica as quatro argolas no focinho. Praticamente tudo que se vê ou se toca é agradável, macio e elaborado com materiais nobres. O Jetta é bem montado e correto no acabamento, mas fica longe de transmitir a mesma sofisticação.
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Fruto de uma plataforma mais nova, a modular MQB também usada no Golf 7, o A3 Sedan pesa 60 kg a menos que o Jetta, feito sobre a base PQ35. Mas o Audi também tem porte inferior, com cerca de 20 cm a menos no comprimento. Isso é bom para o desempenho e a agilidade, porém, o Jetta cumpre melhor o papel de carro familiar, com excelente espaço no banco traseiro e um porta-malão de 510 litros. No Audi a coisa aperta um pouco atrás, especialmente por conta da (baixa) altura do teto, enquanto o porta-malas é de apenas razoáveis 425 litros.
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Ou seja, a escolha entre um e outro passa também pelo perfil de comprador: o A3 Sedan pode ser o carro da família, mas a tendência é que seu cliente esteja mais preocupado com performance, acabamento e status. As mudanças feitas no Audi nacional, no entanto, são facilmente perceptíveis, ainda mais para quem já teve contato com o modelo anterior, europeu. O A3 local é mais alto que importado, chegando a chamar a atenção a distância das rodas para os para-lamas. Diz a marca que foi uma ajuste para que o carro enfrentasse melhor as condições brasileiras de rodagem, principalmente ao superar valetas. O que, de fato, ele engole sem raspar embaixo.
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Convivendo com o A3 Sedan 1.4 por mais tempo (antes havíamos andado apenas no test-drive de lançamento), a suspensão incomodou mais que a troca do câmbio. Explico: o S-Tronic está há anos-luz de rapidez nas trocas em relação ao Tiptronic, mas a Audi compensou no motor. No 1.4 TSFI do modelo importado, eram 122 cv de potência e 20,4 kgfm de torque, enquanto no 1.4 TSFI flex de agora são 150 cv e 25,5 kgfm de torque. E essa diferença, principalmente os 5,1 "quilos" de torque, acaba compensando o câmbio mais lento. Basta ver que o A3 Sedan com etanol no tanque chegou aos 100 km/h em 8,7 segundos, 1 s abaixo da versão gringa com dupla embreagem.
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Já a suspensão merecia melhor acerto. Até entendo a preocupação da Audi com nosso piso "lunar", mas o fato é que o A3 Sedan importado convivia muito bem com isso - lembre-se que ele nasceu na Hungria, que está longe de ter o melhor asfalto da Europa. O resultado é um carro mais macio, sim, mas não mais confortável. Pelo contrário, o A3 nacional balança ao passar por buracos e ainda inclina com vontade nas curvas mais rápidas. Numa alça de ponte com piso ondulado, forcei de propósito o carro para dentro da tangente e senti a traseira escapar com facilidade - algo corrigido rapidamente pelo ESP, mas que não acontecia no carro europeu, e também não ocorre no Jetta.
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O VW, por outro lado, chegou ao ajuste perfeito nesta versão 1.4: é mais macio que o Jetta TSI 2.0 sem ser mole, e mais firme que o A3 sem ser duro. Passa suave e silencioso onde o A3 chacoalha e faz barulho, e ainda transmite mais confiança nas curvas. O Audi pode até ter a frente mais fácil de apontar (é mais leve e curta), mas depois não segue no trilho como o sedã da Volks. Ah, e o Jetta ainda tem pneus bem mais grudentos (Dunlop contra Pirelli P7). Um bom exemplo disso foi sua ampla vantagem nas frenagens, apesar de ser mais pesado.
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É inegável o maior apelo visual do A3 Sedan, bem como seu interior refinado e o melhor entendimento entre motor e câmbio. Pelo lado emocional, dá mais vontade de comprá-lo que o VW. Mas nada que valha investir muito além do Jetta, pois os pacotes de equipamentos do Audi são caros e um tanto estranhos. Mesmo na versão Ambiente completa, como a testada, faltam itens simples como retrovisor fotocrômico e ar-condicionado digital. E olha que estamos falando de um carro de mais de R$ 150 mil, com direito a assistente de estacionamento e até piloto automático ativo (que monitora a distância para o carro da frente e ainda faz o volante acompanhar a faixa da estrada). Mas, por essa grana, fique com a versão 2.0 turbo, que tem 220 cv e manteve a transmissão S-Tronic e a suspensão independente nas quatro rodas (veja nosso teste).
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Com pacote de opcionais bem mais enxuto, o Jetta atinge R$ 97.430 quando equipado com o pacote Exclusive, que adiciona ar digital de duas zonas, rodas aro 17", partida por botão e a excelente central multimídia Discover Media, com GPS, applink e tela sensível ao toque - bem mais prática e completa que a do Audi. Conclusão: pensando com o hemisfério esquerdo do cérebro (razão), o sedã da VW faz mais sentido que o primo rico, lembrando ainda que seu custo de manutenção e seguro são bem mais baratos. Texto e fotos: Daniel Messeder

Ficha Técnica – VW Jetta 1.4 TSI

Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, comando duplo variável na admissão, 1.395 cm³, turbo e intercooler, injeção direta, gasolina; Potência: 150 cv a 5.000 rpm; Torque: 25,5 kgfm a 1.500 rpm; Transmissão: câmbio automático de seis marchas, tração dianteira; Direção: elétrica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e independente multibraço na traseira; Freios: discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS; Rodas: aro 16 com pneus 205/55 R16; Peso: 1.300 kg; Capacidades: porta-malas 510 litros, tanque 55 litros; Dimensões: comprimento 4.659 mm, largura 1.778 mm, altura 1.473 mm, entre-eixos 2.651 mm Medições CARPLACE

Aceleração

0 a 60 km/h: 4,1 s 0 a 80 km/h: 6,3 s 0 a 100 km/h: 9,5 s Retomada 40 a 100 km/h em S: 7,4 s 80 a 120 km/h em S: 8,4 s Frenagem 100 km/h a 0: 37,8 m 80 km/h a 0: 22,8 m 60 km/h a 0: 12,8 m Consumo Ciclo cidade: 10,7 km/l Ciclo estrada: 15,6 km/l

Ficha Técnica – Audi A3 Sedan 1.4 Flex

Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.395 cm³, turbo, injeção direta, flex; Potência: 150 cv de 4.500 rpm a 5.500 rpm; Torque: 25,5 kgfm entre 1.500 e 5.500 rpm; Transmissão: câmbio automático de seis marchas, tração dianteira; Direção: elétrica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira; Freios: discos nas quatro rodas com ABS e EBD; Peso: 1.240 kg; Capacidades: porta-malas 425 litros, tanque 50 litros; Dimensões: comprimento 4.456 mm, largura 1.796 mm, altura 1.416 mm, entre-eixos 2.637 mm Medições CARPLACE (teste com etanol) Aceleração 0 a 60 km/h: 3,9 s 0 a 80 km/h: 5,9 s 0 a 100 km/h: 8,7 s Retomada 40 a 100 km/h em S: 7,2 s 80 a 120 km/h em S: 6,0 s Frenagem 100 km/h a 0: 40,4 m 80 km/h a 0: 25,0 m 60 km/h a 0: 14,0 m Consumo Ciclo cidade: 7,8 km/l Ciclo estrada: 12,2 km/l

Galeria de fotos: VW Jetta x Audi A3 Sedan

Galeria: Teste CARPLACE: novo VW Jetta 1.4 TSI desafia o "primo rico" Audi A3 Sedan

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