Teste CARPLACE: Oroch 2.0 - picape Duster convence mais que o SUV
Está procurando uma Strada semi-nova? Saveiro cabine dupla também serve? Pode procurar em breve na seção de usados de uma revenda Renault. Perdi a conta de quantos donos da picape da Fiat, e mais alguns da VW, que me abordaram na semana em que rodamos com a nova Oroch. Picape de porte intermediário entre as derivadas de carros compactos e as feitas sobre chassi separado da carroceria (como a S10), o modelo desenvolvido sobre o Duster se apresenta como real solução para levar passageiros e carga sem ser um trambolho na cidade. Após alguns dias com ela, aliás, a Oroch passa a fazer mais sentido até que o próprio Duster... Antes, porém, vamos falar um pouco sobre o nicho que a Oroch quer explorar. Tudo começou quando a Fiat percebeu que a Strada cabine estendida estava sendo usada para levar pessoas na parte de trás de cabine - mesmo sendo ilegal e não havendo sequer um assento lateral ali. Veio então a Strada cabine dupla, equipada com banco traseiro e, mais tarde, uma terceira porta lateral. Foi um sucesso de vendas, mas nem tanto de crítica. Afinal, ela nem leva os ocupantes de trás com conforto nem tem uma caçamba espaçosa - em que pese a boa sacada do extensor de caçamba. A Oroch resolve a parada ao derivar de um carro maior, o Duster, e trazer quatro portas de verdade com entre-eixos alongado e uma traseira toda própria.
Teste CARPLACE: Oroch 2.0 - picape Duster convence mais que o SUV
Não é de hoje que a Renault ensaiava uma picape. Sua subsidiária romena Dacia, de onde vieram Logan/Sandero e Duster, já teve uma picape derivada do Logan de primeira geração, mas apenas com cabine simples (duas portas). Também pipocaram no leste europeu transformações sobre o Duster com a parte traseira cortada. A Renault então apenas enxergou o que o cliente queria, e o resultado agrada. Em termos visuais, a Oroch parece ter sido desenvolvida desde o começo do projeto do Duster, sem qualquer vestígio que sugira uma adaptação. A emenda da cabine com a caçamba ficou bem disfarçada com a presença do rack de teto que se alonga na forma de um santo-antônio, enquanto as lanternas de grandes dimensões fecharam harmonicamente o conjunto. Apenas a dianteira poderia ter mais personalidade em relação ao Duster, já que acabou ficando idêntica à do SUV - quando apresentada como conceito ela tinha faróis e para-choque exclusivos, que poderiam ter sido adotados no modelo final.
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A mecânica também é a mesma do Duster, com motores 1.6 e 2.0 e câmbios manual de cinco e seis marchas, respectivamente. Mas a Oroch tem relação de marchas exclusiva para compensar seu maior peso, além da suspensão traseira independente do tipo multilink, que o SUV só possui na versão 4x4. O comprimento ficou em 4,693 metros, com entre-eixos de 2,829 m - contra 2,674 m do Duster. Só que esse ganho não foi todo dedicado ao espaço interno, mas também para a caçamba, de modo que o banco traseiro da Oroch não oferece o mesmo conforto do irmão. O espaço para as pernas é um pouco mais curto e o encosto fica mais vertical, por conta da parede da caçamba. No entanto, há lugares reais para dois adultos e uma criança sem problemas, entregando o que Strada e Saveiro de cabine dupla apenas prometem.
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A caçamba tem tampa com chave e protetor plástico de série. Com 683 litros de capacidade, é maior que a da Strada cabine dupla e abre boa margem em relação ao porta-malas do Duster (475 litros). Isso sem falar, é claro, na maior versatilidade de uso. Você pode levar bikes, pranchas, equipamento de mergulho, malas, carrinho de bebê... Se algo estiver sujo, basta uma mangueira e "lavou, tá novo", algo que você não vai fazer no seu SUV! Usando o extensor de caçamba (60 cm), acessório vendido nas concessionárias, é possível levar até uma moto de pequeno porte (a imagem de divulgação da Renault mostra uma Yamaha XTZ 125 na caçamba). A capacidade de carga é de 650 kg, incluindo os ocupantes. Ou seja, é uma picape que nasceu para o lazer, não para o trabalho pesado.
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Jovens praticantes de esportes e famílias que precisam de espaço encontrarão na Oroch uma bela parceira de aventuras. Já quem é dono de uma picape maior deve fazer um test-drive antes da troca, pois a dirigibilidade é bastante diferente e acreditamos que quem já tem uma das "grandes" (S10, Ranger, Hilux, L200 e Frontier) não deve se sentir encantado pela proposta da picape Duster, a não ser pelo preço.
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Para quem dirige a sensação é semelhante à do Duster, mas com conforto e estabilidade superiores. Na cidade ela é uma atropeladora de buracos e se revela tão simples de guiar quanto o SUV, só requer mais trabalho na hora de achar vaga e estacionar por conta do comprimento - poderia ter câmera de ré na central multimídia. Na estrada ela viaja mais assentada ao solo que o irmão e, nas curvas, a inclinação da carroceria é bastante contida para uma picape, transmitindo confiança para o condutor mesmo em estradas sinuosas como a que leva ao litoral norte paulista, onde fizemos este ensaio fotográfico.
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A direção hidráulica segue um pouco pesada nas manobras, considerando o padrão atual de assistências elétricas, mas oferece firmeza em velocidades de viagem. Já os freios poderiam ser a disco também no eixo traseiro, para dissipar melhor o calor - algo importante num veículo de carga e presente na compacta Saveiro, por exemplo. Também ainda não foi desta vez que a Renault aplicou o controle de estabilidade, presente nesta plataforma no Sandero RS.
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O motor 2.0 dá conta de levar os 1.346 kg da Oroch - com sobras na cidade - e se mostra bem entrosado ao câmbio de seis marchas. A sexta permite baixar o giro na estrada, embora o consumo seja algo elevado, e a quarta vai bem nas ultrapassagens, se aproveitando da relação de diferencial encurtada em 7,5 % (o que afeta todas as marchas) e do torque de 20,9 kgfm. Fazia tempo, porém, que eu não andava num carro 2.0 que "sentisse" o ar-condicionado, e o fato é que a Oroch perde desempenho sensivelmente com o equipamento ligado, em especial nos aclives. Descarregada e sem o ar, a picape de 148 cv (etanol) foi bem em nossas medições: com aceleração de 0 a 100 em 11,0 segundos cravados e retomada de 80 a 120 km/h em menos de 10 segundos, ela fez o que uma S10 precisa de 206 cv para fazer - levando em consideração nosso teste com a S10 2.5 de injeção direta, que teve performance parecida. Os engates do câmbio se mostraram mais macios que no Sandero RS testado recentemente, enquanto a suspensão foi destaque durante toda a avaliação. Muito bom o acerto feito pela Renault, que aposta na robustez e maciez para enfrentar piso esburacado e a acaba agradando também na estabilidade, com a traseira bem presa ao solo. Mesmo em velocidade acima do que seria razoável para esse tipo de veículo a Oroch se mostrou sempre à mão e com reações previsíveis. E, ajudada pelos 21,6 cm de altura livre do solo, as estradinhas de terra e os pisos de pedra de Juquehy, em São Sebastião, foram muito bem digeridas pela picape Duster. Pontos negativos são praticamente os mesmos do Duster, com ênfase na ergonomia. A picape repete o volante que despenca ao se liberar a trava do ajuste de altura e tem os comandos do painel central muito baixos, o que distrai o motorista do trânsito ao acionar-los. Também a peça onde estão os comandos dos vidros elétricos dianteiros fica batendo na perna esquerda do motorista, sem falar no mal posicionado botão de ajuste dos retrovisores elétricos - embaixo da alavanca do freio de mão. Por fim, a central multimídia também fica em posição mais baixa que o desejado, além de muito exposta ao sol - se torna praticamente invisível durante dias de sol forte. O acabamento simples e com muitos plásticos rígidos (fáceis de riscar) também remete ao SUV, mas até que isso (e a direção pesada) é mais fácil de aceitar numa picape que num SUV hoje em dia. Até porque não existe uma versão com caçamba do HR-V, do EcoSport, do 2008...
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Por fim, a Oroch também poderia ser menos gastona. Motor 2.0, câmbio mais curto, aerodinâmica de picape e carroceria pesada formam um conjunto difícil de beber pouco, e as médias de 6,7 km/l na cidade e 9,3 km/l na estrada (etanol) comprovam isso. Optar pela versão 1.6 não nos parece uma solução acertada, pois certamente ficará devendo em desempenho e acabará consumindo muito por conta de trabalhar "no limite" para o peso da picape. Os aspectos negativos, no entanto, não são suficientes para arranhar a boa imagem deixada pela Oroch em nosso teste - melhor que a do Duster, como dissemos. Ela faz bem mais sentido que uma picape pequena de cabine dupla e é uma ameaça aos SUVs de mesmo porte por conta da versatilidade e preço. Por 70.790, a versão avaliada Dynamique 2.0 vem com central Media NAV com tela sensível de 7", faróis de neblina, rodas ao 16" com pneus de uso misto, sensor de estacionamento, computador de bordo, volante revestido de couro e janela do motorista com comando "um toque". Opcionais incluem bancos de couro, protetor frontal com faróis de longo alcance, alargador de para-lamas, capota marítima e grade de proteção do vidro traseiro - itens presentes no modelo testado. Computadas as suas virtudes, conquistar a clientela das picapes pequenas topo de linha parece questão de tempo para a Oroch. E a chegada das versões 4x4 e com câmbio automático deve tornar a picape do Duster ainda mais interessante mesmo após a estreia da Fiat Toro, que deverá ser mais cara e carrega a dúvida sobre se o motor 1.8 da versão de entrada (estimada a R$ 75 mil) vai dar conta de levar uma picape de 4,9 metros. Texto e fotos: Daniel Messeder

FICHA TÉCNICA: Renault Duster Oroch Dynamique 2.0

Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.998 cm3, gasolina/etanol; Potência: 143/148 cv a 5.750 rpm; Torque: 20,2/20,9 kgfm a 4.000 rpm; Transmissão: manual de seis marchas; Direção: hidráulica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e independente MultLink na traseira; Freios: discos ventilados na dianteira e tabmores na traseira, ABS; Rodas: liga-leve aro 16"; Pneus: Michelin LTX Force 215/65 R16; Peso: 1.346 kg; Capacidades: volume da caçamba 683 litros, carga útil 650 kg, tanque 50 litros; Dimensões: comprimento 4.693 mm; largura 1.821 mm; altura 1.695 mm; entre-eixos 2.829 mm; ângulo de entrada 26º, ângulo de saída 19,9º, altura livre do solo 216 mm
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Aceleração 0 a 60 km/h: 5,0 s 0 a 80 km/h: 7,3 s 0 a 100 km/h: 11,0 s Retomada 40 a 100 km/h em 3a marcha: 10,2 s 80 a 120 km/h em 4a marcha: 9,9 s Frenagem 100 km/h a 0: 41,2 m 80 km/h a 0: 26,1 m 60 km/h a 0: 13,5 m Consumo Ciclo cidade:  6,7 km/l Ciclo estrada: 9,3 km/l

Fotos: Renault Duster Oroch 2.0 2016

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