Dia desses um senhor de olhos puxados olhou para mim e, do nada, disse: “Os veteranos merecem maior gratidão”. Depois de alguma reflexão, acho que entendi o recado: enquanto todos estão falando dos novos SUVs compactos, que tal reconhecer a importância dos veteranos e colocar Hyundai Ix35 e Honda HR-V para uma batalha? Eles muito ensinaram para os novatos.
Teste CARPLACE: Honda CR-V e Hyundai ix35 fazem duelo de veteranos renovados
Ambos chegaram ao Brasil há um tempo. Suas gerações anteriores habitaram as garagens dos mais ricos e foram objeto de desejo. Hoje, observam a venda dos SUVs menores aumentarem e, diante de tantas novidades, deram um "tapa" no visual e incorporaram equipamentos para justificar seus preços maiores e a busca pelos clientes mais endinheirados. O CR-V foi o primeiro. Vindo atualmente do México, está na terceira geração desde que começou a ser vendido por aqui. Agora passou por um leve face-lift na dianteira (com feixe de LEDs nos faróis) e recebeu maior refinamento interno para se distanciar do HR-V. Dentro da mesma concessionária em que ele é vendido, o irmão menor cria fila de espera e, mesmo subindo de preço, é cada vez mais comum pelas ruas.
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O coreano ix35 (montado em Anápolis, GO) não tem um irmão menor, ao menos até o Ix25 começar a sair da fábrica de Piracicaba no fim de 2016. Mas o modelo também passou por uma sessão plástica recentemente, visto que aqui o mercado dos SUVs anda agitado e lá fora ele já foi substituído por um novíssimo Tucson (que deve chegar ao Brasil bem mais caro). Longe de ser um novo carro, os retoques do ix35 brasileiro serviram para dar mais um fôlego para o quinto colocado nas vendas entre todos os utilitários-esportivos, atrás justamente dos quatro compactos mais vendidos - HR-V, Renegade, Duster e EcoSport.
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CR-V e ix35 parecem brigar pelo mesmo cliente, mas no fundo não. Estes orientais estudaram em escolas diferentes com o passar dos anos e deixaram isso claro durante este comparativo. O Honda foi para algum colégio americano. Conviveu com os SUVs do país com maior tradição neste segmento e se deu bem por lá. Aprendeu que sua aparência precisa ser robusta e imponente. Os cromados estão por vários detalhes, para dar charme às linhas simples. Por dentro, muito espaço interno, mesmo com um entre-eixos menor que o do Hyundai, e bancos grandes e confortáveis, com materiais de acabamento bem escolhidos. Agora com partida por botão, painel emborrachado, apliques imitando madeira e forração interna de couro bege, tenta mostrar para seu dono que ele ao menos tenta devolver os R$ 136.900 investidos. O CR-V só esqueceu de ir na aula de Educação Física. Embaixo do capô, há apenas um 2.0 flex de 155 cv e 19,5 kgfm de torque a 4.700 rpm, com comando único variável, ligado ao câmbio automático de cinco marchas sem nem opção de troca manual sequencial (basicamente o mesmo conjunto do Civic, mas ao menos o sedã é mais leve e tem opção de trocas manuais). Basta observar os números de aceleração obtidos em nossas medições (0 a 100 km/h em 13,3 segundos) para notar que o japonês exige uma dose de paciência para embalar e requer atenção nas ultrapassagens.
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Ele também fez estágio com os SUVs americanos na hora da calibração da suspensão. Totalmente voltada ao conforto, passa por ondulações e buracos com um refinamento notável. Nas curvas, porém, deixa a carroceria inclinar acentuadamente, como num utilitário-esportivo clássico. Mesmo com a tração 4WD (que ativa a traseira quando a dianteira patina), o CR-V não gosta de abusos ou qualquer coisa com mais emoção do que uma condução calma e suave. Freios? São bons, mas, durante o teste pediram arrego muito antes do ix35 - bastaram algumas passagens para o sistema sobreaquecer. O Hyundai fez aulas particulares com algum sedã. Em vários momentos, é possível esquecer que estamos dirigindo um SUV. O motor também é um 2.0 flex, mas o coreano possui duplo comando de válvulas variável e, mesmo após a redução de potência para se enquadrar nas regras de emissões, gera 167 cv e torque de 20,6 kgfm em 4.700 giros. No câmbio, outra vitória em cima do rival, ao usar uma caixa automática de seis marchas com trocas manuais sequenciais. Na prática, isso significa melhores saídas de semáforo, maior facilidade para manter velocidade na estrada e liberdade para escolher a forma de conduzir o ix35. Nos testes, chegou aos 100 km/h em 11,1 segundos, um número melhor que o de alguns sedãs médios. Em compensação, foi mais gastão que o Honda especialmente na estrada - desconfiamos que seja por isso que o computador de bordo foi abolido...
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Junto com os bons números de aceleração, o Hyundai também apresenta melhor estabilidade. A suspensão é mais firme, as rodas são maiores (aro 18”) e os são pneus mais baixos (225/55). Ele ignorou totalmente o fato de não ter a tração integral do oponente e o deixou para trás nos trechos de serra. Em contrapartida, não oferece a mesma suavidade em pisos ruins, ainda que não seja desconfortável. Seu problema está justamente na parte mais importante, que é ser um SUV de R$ 122.990. Sair do CR-V para o ix35 é quase pular um degrau para baixo em termos de acabamento e qualidade de materiais. O que o Hyundai foi superior em desempenho, conseguiu ficar para trás na percepção de valor que tanto procuramos em um carro deste segmento.
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O espaço interno não é tão generoso como o do CR-V, mas ainda acomoda bem os passageiros. Os bancos são menores e mais esportivos, assim como a posição de dirigir – o que, particularmente, me agrada. Mas aí notamos o painel e as portas com acabamento de plástico rígido. sem falar na falta de um simples computador de bordo. Também sua central multimídia não é tão completa quanto à do oponente - só o Honda tem entrada HDMI, por exemplo. Na hora de acomodar as bagagens, o CR-V tem mais espaço e boca mais baixa, facilitando a vida.
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Ambos possuem pacotes de equipamentos vistosos. Em comum, direção elétrica, com regulagem de altura e profundidade da coluna, conjunto elétrico, chave presencial, controles de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa, bancos de couro, câmera de ré e ar-condicionado eletrônico de duas zonas com saídas traseiras. O CR-V ainda traz a cental multimídia com a entrada HDMI e GPS com aviso de tráfego e computador de bordo, enquanto o ix35 tem teto-solar duplo (simples no CR-V) e controle de descidas, algo curioso num SUV 4x2. Mas eles dividem também a ausência de equipamentos básicos nesta faixa de preço, como retrovisor interno fotocrômico e freio de estacionamento elétrico, ainda exigindo usar o arcaico pedalzinho na hora de estacionar.
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Sendo sincero, pelo valor dos dois, eu consideraria a compra de, por exemplo, um Audi Q3 1.4, ou um Jeep Renegade a diesel, menores, mas mais modernos. Se você procura algo maior, a escolha entre o CR-V e o ix35 dependerá do seu gosto. Enquanto o Hyundai vence no conjunto mecânico, o Honda é melhor em conforto e aceita uma laminha leve com sua tração integral. Levaria este comparativo fácil se fosse importado com o motor 2.4 de injeção direta e 185 cv atrelado ao câmbio CVT, como vendido nos Estados Unidos. O senhor oriental do começo do texto? Capaz dele querer o CR-V. Por Leonardo Fortunatti (colaboração para o CARPLACE) Teste e Fotos: Daniel Messeder

Ficha técnica: Hyundai ix35

Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.999 cm3, comando duplo variável, flex; Potência: 157/167 cv a 6.200 rpm; Torque: 19,2/20,6 kgfm a 4.700 rpm; Transmissão: câmbio automático de seis marchas, tração dianteira; Direção: elétrica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e Dual link na traseira; Freios: discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS; Rodas: aro 18″ com pneus 225/55 R18; Peso: 1.500 kg; Capacidades: porta-malas 728 litros (até o teto), tanque 58 litros; Dimensões: comprimento 4.410 mm, largura 1.820 mm, altura 1.655 mm, entreeixos 2.640 mm

Medições CARPLACE

Aceleração 0 a 60 km/h: 5,1 s 0 a 80 km/h: 7,5 s 0 a 100 km/h: 11,1 s Retomada 40 a 100 km/h em D: 8,7 s 80 a 120 km/h em D: 8,1 s Frenagem 100 km/h a 0: 40,8 m 80 km/h a 0: 25,5 m 60 km/h a 0: 14,1 m Consumo Ciclo cidade: 5,3 km/l Ciclo estrada: 6,9 km/l

Ficha técnica: Honda CR-V 4WD

Motor: dianteiro, longitudinal, quatro cilindros em linha, 16 válvulas, comando simples variável, flex; Potência: 150/155 cv a 6.300 rpm; Torque: 19,3 a 4.700 rpm /19,5 kgfm a 4.800 rpm; Transmissão: câmbio automático de cinco marchas, tração integral; Direção: elétrica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e Multi link na traseira; Freios: discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS; Rodas: aro 17″ pneus 225/65 R17; Peso: 1.579 kg; Capacidades: porta-malas 589 litros, tanque 71 litros; Dimensões: comprimento 4.580 mm; largura 1.820 mm; altura 1.655 mm; entre-eixos 2.620 mm

Medições CARPLACE

Aceleração 0 a 60 km/h: 6,0 s 0 a 80 km/h: 9,4 s 0 a 100 km/h: 13,3 s Retomada 40 a 100 km/h em D: 9,5 s 80 a 120 km/h em D: 9,4 s Frenagem 100 km/h a 0: 42,4 m 80 km/h a 0: 26,9 m 60 km/h a 0: 14,8 m Consumo Ciclo cidade: 6,5 km/l Ciclo estrada: 9,0 km/l

Galeria de fotos: Honda CR-V x Hyundai i35

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Foto de: Redação
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