Em entrevista exclusiva ao CARPLACE nesta quarta-feira (26), o presidente da Anfavea (associação que reúne as principais fabricantes), Luiz Moan, rebateu os argumentos da senadora Ana Amélia (PP-RS), responsável por convocar uma audiência da Comissão de Assuntos Econômicos para discutir os preços dos carros no Brasil. Na reunião realizada em Brasília (DF) no dia 25, o Governo, mais uma vez, empurrou o problema para as montadoras, alegando elevadas margens de lucro por parte das empresas. Numa conversa franca, Moan, que também é diretor na General Motors, relacionou uma série de dados apresentados por ele na audiência. E deixou claro que a composição dos preços vai muito além do estipulado pelas montadoras. Para começar, Moan admitiu que os carros deveriam, sim, ser mais baratos no país. Mas também revelou que o lucro das montadoras não é maior aqui do que no restante do mundo. Segundo o presidente, o lucro líquido médio anual das fabricantes entre 2003 e 2011 foi de 2,9%, enquanto um levantamento da revista Forbes aponta que a média mundial nesta modalidade é de 3,1%. "O Brasil é um país caro, fazer um para-choque aqui custa 20% mais do que nos Estados Unidos e 38% mais que na China. Fora isso, a carga tributária média sobre o automóvel fica ao redor dos 30%. Se não fossem os impostos, o VW Gol poderia custar R$ 20 mil", conta o mandante da Anfavea. Ou seja, dos R$ 31 mil da versão de entrada do modelo mais vendido do país, cerca de R$ 11 mil vai para os cofres do Governo.
Claro que o exemplo acima é hipotético, pois carro sem imposto não existe em nenhum lugar do planeta. Mas a Anfavea defende que as taxas poderiam ser bem mais razoáveis por aqui. Vamos considerar os tributos cobrados nos EUA (6%), Japão (9%) e na Alemanha, França e Inglaterra (17%). Se tivéssemos a tributação norte-americana, o mesmo Gol custaria R$ 21.200, ou R$ 21.800 com a carga japonesa e R$ 23.400 com as taxas dos principais países da Europa. Outros fatores, porém, contribuem para os preços mais altos por aqui. Moan destaca o elevado custo de produção, que inclui até mesmo os altos encargos sobre os funcionários no Brasil. "Dos cerca de R$ 4 mil que as montadoras pagam, em média, aos trabalhadores das linhas de montagem, elas gastam quase R$ 8 mil para ter esse funcionário", explica o presidente, levando a questão para toda a cadeia de empregos no Brasil, nos demais setores da economia.
Outro participante da audiência em Brasília, o secretário-geral da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM), João Vicente da Silva Cayres, fez um interessante desmembramento dos custos das montadoras: compra de materiais e componentes são responsáveis por 50%, mão-de-obra representa 8%, energia elétrica e água 0,3%, despesas com vendas 4%, propaganda 3%, fretes 1,6% e compra de peças de reposição 12%. Falando em frete, aliás, Moan lembra que no Brasil este custo já está embutido no preço dos carros, enquanto na maioria dos mercados o transporte é cobrado à parte.
Na visão do presidente da Anfavea, apesar de haver espaço para melhoras, o acesso ao carro 0 km está ficando mais próximo nos últimos anos. "A classe C comprou muito automóvel recentemente", conta Moan. Ele explica que, em 1995, um Gol básico custava cerca de R$ 9 mil, mas eram necessários 88 salários mínimos para comprá-lo. Em 2014, o Gol de entrada sai por R$ 31 mil, porém, são precisos 43 salários mínimos para levá-lo para casa. Ou seja, quase metade do que há cerca de 20 anos. É preciso também considerar que, em alguns casos, o brasileiro paga o mesmo ou até menos do que os europeus quando convertidas as moedas. Vejamos o caso do EcoSport, que acaba de chegar à Europa. De acordo com levantamento feito pelo UOL Carros, na Alemanha o modelo com motor 1.0 Ecoboost sai por 18.990 euros, o equivalente a R$ 60.870. Na Inglaterra, o Eco na versão 1.5 a gasolina é tabelado 15.995 libras, ou R$ 62.400. No Brasil, o modelo 1.6 começa em R$ 58.490. No final do ano passado, por conta do lançamento do novo VW Golf no Brasil, esta diferença também foi bastante discutida. Com preços a partir de R$ 70 mil, a versão Highline 1.4 TSI do hatch médio custa basicamente o mesmo que em seu país de origem, a Alemanha. Por fim, a Anfavea destaca a importância do setor automotivo para o Brasil, que gera nada menos que R$ 178 bilhões por ano em impostos para o Governo, incluindo o pós-venda (combustível, revisões, etc). Um valor que representa, segundo a associação, cerca de 16% da arrecadação total do país. "Ainda há muito espaço para crescer, o mercado brasileiro é artificialmente pequeno. Nossa relação é de 6 habitantes para cada carro, enquanto na Argentina são 3, na Europa são 2 e nos EUA esta equação chega a 1,2", exemplifica Moan. Só que para chegar a esse patamar é preciso participação do Governo. O chefão da Anfavea confessou até que não esperava o retorno do IPI integral para os automóveis e comerciais leves em ano de eleição, aprovado pela presidente Dilma Rousseff, justamente porque ela vai disputar a permanência no cargo para os próximos quatro anos em outubro. "Do jeito que está o mercado atualmente, nossa previsão para 2014 é de queda nas vendas", encerra Moan. Fatos expostos, é sempre importante lembrar que o cidadão deve fazer sua parte. Os carros no Brasil são caros, sim, mas já não tanto quanto antes - e muito graças ao consumidor que está mais exigente e à concorrência cada vez mais acirrada. É preciso considerar que há modelos com valores justos, outros inflacionados pela alta procura e até mesmo bons negócios. Entre custo Brasil, impostos elevados e margem de lucro das montadoras, a principal arma contra os preços altos é não pagá-los. A decisão está nas suas mãos.

Galeria: "Se não fossem os impostos, Gol poderia custar R$ 20 mil", diz presidente da Anfavea

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