Muitas são as histórias em torno do surgimento do termo Cafe Racer. A mais aceita é sobre rebeldes jovens ingleses que se reuniam em cafés para corridas ilegais de moto, nos anos 1960. Enquanto rolava um rock na jukebox, eles saíam em disparada rumo a um outro café ou apenas para uma acelerada nas redondezas, com a "missão" de votar antes que a música acabasse. Para ganhar desempenho, mexiam nos motores de suas motos e eliminavam praticamente tudo que pudesse agregar peso, além de colocarem o guidão bem avançado e baixo, para deixar a posição de pilotagem mais esportiva.
Cafe Racer: curtindo a onda retrô com Triumph Thruxton e BMW Nine T
O tempo passou e com ele esses "rachas" foram contidos pela fiscalização. Já tive o prazer de visitar o Ace Cafe, em Londres, durante uma manhã de domingo e o que não faltava eram policiais de olho nos motociclistas ali reunidos. O Ace é a meca do estilo Cafe Racer, um lugar que ainda parece viver como há 50 anos. Rock das antigas, decoração retrô e velhas jukeboxes estão espalhadas pela lanchonete, que serve aquele café da manha inglês no capricho - com direito a ovo, salsicha, chá preto e até feijão! Por ficar no entroncamento de estradas na saída de Londres, o lugar é point certo da galera que se reúne para passeios de moto - sejam elas antigas ou novinhas em folha. Mas o que domina o estacionamento são mesmo as cafe racers, uma febre que se reaqueceu nos últimos anos e que resolvemos celebrar, desta vez no Brasil, com as já clássicas Triumph Thruxton e BMW Nine T. O nosso cenário tem até a torre do relógio Big Ben, mas Londres está a mais de 10 mil km de distância. Estamos em Paranapiacaba, em Santo André, um pequeno distrito que conserva o estilo britânico construído pela companhia inglesa de trens São Paulo Railway, que operava o transporte de cargas e pessoas entre o interior paulista e o porto de Santos. Para nossa sorte (ou do fotógrafo?), tivemos até o típico fog inglês no dia da reportagem. Mais apropriado, impossível! Embora tenham a mesma fonte de inspiração para o estilo, Thruxton e Nine T são animais distintos: o modelo da Triumph é uma versão "esportivada" da tradicional Bonneville, mais fiel ao visual rústico das Cafes. Ela vem com semi-guidões e pedaleira mais recuada e elevada, bem como o banco mais alto, para tornar a postura de pilotagem mais agressiva. Tem também um assento específico, mais estreito e que pode receber uma capinha na parte traseira para deixá-la como monoposto. Ainda em relação à Bonnie, o quadro de instrumentos recebe fundo branco e o motor, remapeado, rende 1 cv extra. No total, o bicilíndrico de 865 cc entrega 69 cv de potência e 6,93 kgfm de torque.
Cafe Racer: curtindo a onda retrô com Triumph Thruxton e BMW Nine T
Já a Nine T foi desenvolvida para comemorar os 90 anos da BMW Motorrad. Com projeto partindo da antiga R 1200R, ela recebeu uma série de modificações para deixá-la com design minimalista e ciclística mais esportiva. O motor é o clássico dois cilindros boxer da marca, ainda na versão refrigerada a ar (a atual R 1200 GS usa a nova versão a líquido), de modo a aproveitar o histórico de preparação que este propulsor possui na Europa. Uma das sacadas desta moto é a personalização, incluindo uma tampa no lugar do assento traseiro (deixando-a com cara de monoposto), mas na mecânica não precisa mexer: são 110 cv e uma patada de 12,1 kgfm de torque, comandados por um câmbio de seis marchas e transmitidos à roda traseira por eixo cardã. As bengalas dianteiras, invertidas, vieram da antiga S1000 RR (embora sem regulagem) e os freios são a disco duplo na dianteira e simples na traseira, com pinças Brembo e ABS.
Cafe Racer: curtindo a onda retrô com Triumph Thruxton e BMW Nine T
Como podemos perceber pelas descrições técnicas, a Triumph é uma moto de concepção mais simples, despojada, o que lhe permite um preço que é praticamente metade do valor da BMW: R$ 33.490 contra R$ 62.900. O que estamos fazendo aqui, portanto, está longe de ser um comparativo. Nossa ideia é apenas mostrar essas duas opções para os amantes das Cafes, já que a escolha vai depender muito do gosto e, principalmente, do bolso do interessado.
Cafe Racer: curtindo a onda retrô com Triumph Thruxton e BMW Nine T
Em movimento, a Thruxton é um café de coador bem tirado, enquanto a NineT é daqueles cafés gourmet tipo Nespresso. Ou seja, a Triumph é boa o suficiente para agradar ao paladar, mas a BMW tem sabor mais encorpado. Começando pela moto inglesa, logo notamos a postura mais esportiva em relação à Bonneville. Os semi-guidões deixam a moto mais estreita, enquanto as pedaleiras ficam mais para trás, em posição elevada. O piloto fica com as costas mais inclinadas, o que cansa depois de um tempo, mas recebe como "troco" uma tocada mais leve que na Bonnie, mais fácil de apontar nas curvas. O câmbio tem engates macios e relações longas, para compensar a ausência da sexta (são apenas cinco marchas).
Cafe Racer: curtindo a onda retrô com Triumph Thruxton e BMW Nine T
Como na Boneville, o motor bicilíndrico surpreende pelo baixo nível de vibrações, tendo também um ronco discreto, mas marcante. Apesar dos elevados 230 kg, as respostas do motor são vigorosas e adequadas à proposta da moto, que não tem como meta ser esportiva. Mesmo assim, os 100 km/h surgem em poucos segundos e máxima fica em torno dos 180 km/h. A suspensão usa garfos convencionais na dianteira, com 120 mm de curso, e duplo amortecedor na traseira, com pré-carga ajustável e 106 mm de curso. Ela é "durinha", mas não chega a bater seco nos buracos, oferecendo boa estabilidade em estradas sinuosas - respeitando-se, claro, seus pneus mais finos e com banda de desenho conservador. Já os freios são apenas razoáveis: poderia haver mais um disco na dianteira (há apenas um), e na traseira achamos a "mordida" do disco muito mansa para o que a moto anda (e pesa). Outra falta sentida é do ABS, não oferecido nem como opcional.
Cafe Racer: curtindo a onda retrô com Triumph Thruxton e BMW Nine T
Mais fiel ao estilo rústico, a Thruxton tem algumas curiosidades, como uma imitação de carburador no motor (que na verdade é injetado) e o afogador (que deve ser usado para a primeira partida do dia), além da tampa do tanque sem chave. Outro aspecto que chama atenção é a posição dos retrovisores, nas extremidades do guidão, o que requer uma certa adaptação para passar no corredor formado entre os carros, uma vez que a largura total chega a 830 mm. Com tanque de 16 litros de capacidade, a Triumph teve consumo médio de 18,9 km/l durante a avaliação, rendendo uma autonomia de aproximados 300 km.
Cafe Racer: curtindo a onda retrô com Triumph Thruxton e BMW Nine T
Se a inglesa aposta na pureza, a alemã é toda sobre poderio. A partida do motorzão 1.200 é acompanhada de um leve chacoalho da moto (característico do motor boxer bicilíndrico) e um ronco forte e grosso que emana pela dupla saída de escape. Diferente da Triumph, aqui a postura do piloto é menos de esportiva e mais de naked, com o guidão aberto e peito ao vento. A embreagem hidráulica não requer quase esforço na manopla, enquanto o eixo cardã deixa a condução muito suave, praticamente isenta de trancos mesmo nas passagens de marcha mais rápidas. Para acompanhar, o câmbio tem engates macios e a suspensão é surpreendentemente macia mesmo na buraqueira paulistana. Já para circular entre os carros no trânsito é preciso um pouco de atenção com as cabeças dos cilindros do motor para fora do quadro, além do guidão largo (total de 890 mm). Mas a Nine T tem bom ângulo de esterço e, apesar dos 222 kg, não parece pesada na hora de manobrar entre os demais veículos.
Cafe Racer: curtindo a onda retrô com Triumph Thruxton e BMW Nine T
Dá para usar no dia-a-dia? Sim, mas o grande barato desta BMW é pegar uma estrada, de preferência cheia de curvas. Impressiona o generoso torque (mais de 12 kgfm!) espalhado por uma ampla faixa de rotações, fazendo com que as respostas do acelerador sejam sempre fortes, mesmo em marchas altas. Uma chamada mais decidida na manete direita resulta num coice na traseira, com a Nine T disparando para além dos 200 km/h em pouco tempo - os 100 km/h chegam em apenas 3,6 s, de acordo com a marca. Embora não seja um motor de alto giro (a faixa vermelha começa em 8,5 mil rpm), o que não falta é disposição motor 1.200 - e a vibração sentida em marcha lenta se desfaz conforme os giros aumentam. Na cidade, a Nine T anda numa boa usando marchas elevadas em baixas velocidades. Na estrada, crava 4 mil rpm a 120 km/h em sexta marcha, proporcionando uma viagem relaxada e prazerosa. Divertida de pilotar em qualquer situação, a Nine T revela uma ciclística leve, ágil e esportiva, que oferece uma tocada bem mais ousada do que sugere seu visual clássico. Ela aponta com facilidade onde se deseja, encarando trechos em “S” com naturalidade e inclinando mais do que se espera em curvinhas fechadas. Também merece aplausos o sistema de freios, com discos duplos de 320 mm na dianteira e pinças Brembo, que garantem alicatadas decididas e um eficiente ABS. Outras "modernidades" estão presentes em itens como a lanterna de LEDs e o indicador de marcha no painel. Por fim, a média de consumo durante o teste ficou em 15,6 km/l, o que resulta em cerca de 280 km de autonomia com os 18 litros de capacidade do tanque.
Cafe Racer: curtindo a onda retrô com Triumph Thruxton e BMW Nine T
Após desfrutar das duas Cafes, fica evidente que a única coisa que as une é o estilo clássico. Cada qual com sua tocada, a Triumph pode ser o ponto de partida para uma estilosa moto de cilindrada maior, pelas respostas mais suaves e uma pegada mais "passeio descompromissado". Por outro lado, a Nine T justifica seu preço mais alto pela mecânica e acabamento caprichado. É uma naked esportiva vestida de roupa clássica, na medida para os mais experientes (e endinheirados) relembrarem seus tempos de garotos rebeldes. Por Daniel Messeder Fotos: Rafael Munhoz

Ficha técnica – BMW R Nine T

Motor: dois cilindros boxer, 8 válvulas, 1.170 cm3, injeção eletrônica, comando duplo no cabeçote, refrigeração a ar e óleo; gasolina Potência: 110 cv a 7.500 rpm; Torque: 12,1 kgfm a 6.000 rpm; Transmissão: câmbio de seis marchas, transmissão por eixo cardã; Quadro: Quatro seções com quadro traseiro em três seções, aço; Suspensão: Garfo telescópico hidráulico invertido com 46 mm de diâmetro (120 mm de curso) na dianteira e monobraço oscilante paralever na traseira (120 mm de curso), ajustável na pré-carga da mola; Freios: discos duplos com pinças radiais na dianteira (320 mm) e disco simples na traseira (265 mm), com ABS; Pneus: 120/70 aro 17 na dianteira e 180/55 aro 17 na traseira; Peso: 222 kg (em ordem de marcha);Capacidades: tanque 18 litros; Dimensões: comprimento 2.220 mm, largura 890 mm, altura do assento 785 mm, entreeixos 1.476 mm

Ficha técnica – Triumph Thruxton

Motor: dois cilindros em linha, 8 válvulas, 865 cm3, injeção eletrônica, comando duplo no cabeçote, refrigeração a ar; gasolina Potência: 69 cv a 7.400 rpm; Torque: 6,93 kgfm a 5.800 rpm; Transmissão: câmbio de cinco marchas, transmissão por corrente; Quadro: subestrutura de aço tubular; Suspensão: Garfo telescópico com 41 mm de diâmetro (120 mm de curso) na dianteira e bi-amortecida na traseira (106 mm de curso), ajustável na pré-carga da mola; Freios: discos simples na dianteira (320 mm) e na traseira (255 mm); Pneus: 100/90 aro 18 na dianteira e 130/80 aro 17 na traseira; Peso: 230 kg (em ordem de marcha);Capacidades: tanque 16 litros; Dimensões: comprimento 2.150 mm, largura 830 mm, altura do assento 820 mm, entreeixos 1.490 mm

Galeria de fotos: BMW Nine T e Triumph Thruxton

Galeria: Cafe Racer: curtindo a onda retrô com Triumph Thruxton e BMW Nine T

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