"Guia de Compras" parece ser a receita da moda da mídia automotiva para conquistar novos leitores. A princípio, faz sentido: há milhares de novos consumidores entrando no mercado de automóveis (gente que nunca comprou um 0 km) e, ao mesmo tempo, nunca houve tantas opções de carros à venda no Brasil. Nada mais normal então que poder orientar esse consumidor. Mas na prática isso realmente funciona? Quando alguém vem perguntar para mim qual carro comprar eu respondo com outra pergunta: do que você precisa? Geralmente a pessoa já tem um carro em mente e só quer a sua confirmação de que o modelo é bom - e fica chateada quando a resposta é negativa... Pois quando vejo um guia de compra com os "melhores negócios" eu imagino que muita gente fique ainda mais confusa. Geralmente, você encontra uma colocação (1º, 2º, 3º...) e muitas vezes aquele carro pretendido sequer aparece. Mas o pior não é isso, são alguns dos critérios utilizados: preço de peças, revisões, taxa de desvalorização, índice de reparação... OK, são itens importantes, mas não DECISIVOS para a compra de um carro. Já vi modelo "ganhar" comparativo porque a tal "cesta de peças" era mais barata. Oras, exceto em carros mais caros, em geral os preços de componentes de carros de mesma categoria são próximos - e quando há diferença significativa é preciso levar em consideração outros aspectos. "Ah, mas o farol daquele carro é muito caro!". Pode ser, mas você não vai ter seguro? Seguro. Está aí outro ponto de discórdia. Hoje em dia seguro de carro é quase como seguro saúde - depende muito mais do perfil do segurado do que do próprio carro. Claro que há modelos mais visados, mas, novamente, uma cotação de seguro será mero enfeite, pois o seu poderá ser bem diferente. Voltando às peças, mais um problema: hoje a maioria das concessionárias só divulga os preços mediante o número de chassi do carro. Ou seja, acaba que a própria montadora indica seus valores de manutenção. Mas quem garante que esses preços serão os praticados na concessionária? E tem mais: percebeu que até agora não falamos do carro em si? Pois para mim aí está o principal problema de escolher carro pelo Excel. O que você quer do seu automóvel mesmo? Que ele atenda seus desejos, que seja confiável, que leve sua família ou que seja somente bonitinho? É por isso que nossos comparativos não têm colocação. Testamos os carros por completo (com direito a medições) para indicar quais suas vantagens e desvantagens, e indicar o melhor para suas necessidades ou gosto. Hoje quase todos os carros são bons produtos, e muitas vezes parelhos entre si (salvo raras exceções). O que os diferencia é o que você deseja: quer um sedã com porta-malas gigantesco ou um com tocada mais esportiva? Não estou dizendo que o pós-venda não importa. É preciso pesquisar se a marca tem bom histórico no país, se há pontos de manutenção em sua cidade, se as revisões têm preço fixo e se o modelo escolhido pode virar um "mico" na hora da revenda. Taxa de desvalorização? Muito cuidado com ela: já vi muito carro "mico" ter desvalorização indicada abaixo de modelos conhecidos como "bons de mercado". Na dúvida, vale uma observação: carros bem vendidos quando 0 km têm mais chances de serem bem sucedidos no mercado de usados. No fim, o mais importante é comprar um bom carro. E isso inclui chassi, construção, motor, câmbio, suspensão, acabamento, qualidade dos equipamentos, itens de segurança, desempenho, baixo consumo, etc. Depois vêm suas prioridades, como espaço interno ou prazer ao volante. Decidido o modelo, daí sim entra a parte de pesquisar o melhor preço e pechinchar. Fazer um bom negócio, a meu ver, é principalmente comprar um carro que te deixe feliz e satisfeito.
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