Viagem-teste: até o Paraguai com a nova Yamaha Fazer BlueFlex
Viajar de moto é sempre um prazer. Principalmente quando se pode sair num domingo depois do almoço. Enquanto a rodovia Castelo Branco está toda congestionada com uma multidão voltando para São Paulo, você acelera uma Yamaha Fazer 250 em direção contrária, indo para interior do Estado com destino a tríplice fronteira em Foz do Iguaçu (PR), onde Brasil, Argentina e Paraguai se encontram. No grande tanque de 19,2 litros da Fazer, havia só etanol. Essa era a ideia: ir com etanol e voltar com gasolina, rodando mais de 2.100 km em cinco dias. Para quem tem uma 125 ou 150 cc, a Fazer 250 é uma evolução natural. Tem todas as vantagens de uma moto compacta – facilidade para pilotar, agilidade no trânsito e até consumo contido – com um motor mais potente. Os 21 cv (a 8.000 rpm) do propulsor de apenas um cilindro e duas válvulas permitem manter 120 km/h ou um pouco mais e rodar pela pista da esquerda da Castelo sem atrapalhar. Bem mais rápida e ágil em relação às motos menores.
Viagem-teste: até o Paraguai com a nova Yamaha Fazer BlueFlex
Adaptei um GPS automobilístico na Fazer, não só para encontrar as estradas mais facilmente, como também para ter a velocidade real. Logo se percebe que o velocímetro digital da Yamaha sofre de otimismo exagerado: rodando a 120 km/h reais pelo GPS, o painel indica 132/133 km/h. Nas descidas, quando a velocidade medida pelos satélites é de 128 km/h, a marcação digital da Fazer mostra 143 km/h. Aliás, a exatos 128 km/h (e quase 9.000 rpm) o motor “corta”, não permitindo maior rotação ou velocidade. Isso só acontece com etanol no tanque, e se deve ao fato da Yamaha ter mantido o bico injetor semelhante ao da versão a gasolina, apenas com tratamento anti-corrosão. Assim, quando o motor atinge as 9.000 rpm, o injetor chega no seu limite de vazão (com etanol) e corta. Já ao usar apenas gasolina, na volta de Foz, em baixadas a Fazer ia até os 134/136 km/h sem que o conta-giros entrasse na faixa vermelha, nos 10.000 rpm. Outra grande melhoria da Fazer já é bastante comum em outras motos com injeção eletrônica. Com o gerenciamento eletrônico, as vibrações praticamente desapareceram. Os motores de um cilindro são os que mais vibram e em motos carburadas isto chega a incomodar, deixando as mãos insensíveis quando se pilota seguidamente por muito tempo. Na Fazer, estas vibrações realmente não atrapalham. Pela estrada afora Até o final da rodovia Castelo Branco, a Fazer foi de “cabo enrolado”, praticamente mantendo a velocidade máxima da estrada, de 120 km/h. Claro, nestas condições o consumo de etanol sobe e ficou entre 16 e 17 km/litro. Uma vantagem da Fazer, mesmo com álcool, está na autonomia, exatamente pelo grande tanque. Mesmo assim, rodava entre 100 e 120 km e fazia uma parada, quando ela era abastecida. O melhor consumo de etanol, depois da Castelo, foi de 18,8 km/litro. Um piloto mais tranquilo, rodando em torno dos 100 km/h, conseguiria passar dos 20 km/litro com etanol. A Fazer foi lançada em 2005 e teve uma boa reestilização em 2010, quando recebeu visual esportivo, novo painel e LEDs na lanterna traseira. No ano passado ganhou esta versão BlueFlex, sendo a primeira moto bicombustível da categoria – a versão a gasolina continua à venda. Recentemente, foi seguida pela Honda CB 300R, que agora também tem versão (apenas) flex.
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Em 2010, a suspensão traseira da Fazer foi retrabalhada, recebendo rolamentos nos links em lugar das tradicionais buchas. Ganhou em suavidade de funcionamento, mas as suspensões continuam firmes, quase esportivas, porém sem desconforto. Também após 2010, este motor (que também equipa a Yamaha Lander) diminuiu seu ruído característico em acelerações na parte superior do motor (próximo ao cabeçote). Com pistão forjado, este ruído é mais acentuado quando se usa etanol. Um fenômeno que também ocorre nos automóveis: com etanol, o motor tem funcionamento mais áspero. Em longas viagens, apenas a espuma do banco incomoda. Para tornar a moto acessível aos mais baixinhos, a espuma é bastante densa, com uma camada reduzida no lugar do piloto. Para os desprovidos de "poupança", isto se torna desconfortável principalmente em viagens. Poderia haver mais espuma e com menor densidade, ainda que o banco ficasse um pouco mais alto.
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Além da agilidade em curvas e rápidas mudanças de direção, outro destaque da Fazer está nos freios a disco bastante eficientes. O disco dianteiro de 28,2 cm de diâmetro garante paradas rápidas e não apresenta fading (perda de eficiência em uso contínuo). Outra restrição fica para o câmbio de cinco marchas com relação final um pouco curta. Assim, o motor trabalha quase sempre na rotação de potencia máxima (8.000 rpm), aumentando o nível de ruído e o consumo. A melhor solução seria uma transmissão de seis marchas (o que é complicado e caro) ou uma relação final um pouco mais longa: o pinhão seria mantido, mas a coroa teria dois ou três dentes a menos. No Oeste do Paraná Depois de 560 km rodados, chegamos em Londrina lá pelas 22h do domingo, após passar um bom frio nos últimos 100 km, a partir da rodovia Raposo Tavares. O baú que levei era limitado (apenas 28 litros) e achei que não iria fazer 12ºC à noite no Norte do Paraná. Faltou agasalho para colocar embaixo da jaqueta. Um banho quente e uma noite bem dormida resolveram a questão e, após um passeio em Londrina (onde passei minha adolescência e comecei a viajar de moto), lá pelas 10 horas da segunda-feira estava na estrada, indo para Oeste em direção a Maringá, Cascavel e, finalmente, Foz do Iguaçu.
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Algumas estradas de pista simples e o etanol mais barato (até menos de R$ 1,80) numa região produtora de cana justificavam o uso do combustível vegetal. O consumo da Fazer beirava os 19 km/litro e, em trechos mais rápidos, voltava para os 16/17 km/litro. No final da tarde, já anoitecendo, entramos em Foz do Iguaçu, após 1.100 km rodados. A hospedagem foi num Hostel que, além de barato, tem uma atmosfera bem familiar. Existem vários em Foz e basta escolher no site www.hostels.com/brazil. É bom reservar, pois em algumas épocas a cidade fica lotada com turistas e convenções. Muambas em geral Preferi ir para Ciudad Del Leste, pela Ponte da Amizade, que liga Foz ao Paraguai, de ônibus (R$ 4). Para se entrar legalmente em outro país do Mercosul é necessário que a moto esteja em nome do condutor e tenha um seguro chamado Carta Verde. Como a Fazer estava em nome da Yamaha, seria necessária uma autorização com aval do Ministério de Relações Exteriores, uma burocracia que demora de 20 a 30 dias para ser concluída.
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Claro que isto não chega a ser fundamental só para atravessar a Ponte da Amizade, mas um estacionamento cheio de motos um pouco antes da Aduana brasileira me convenceu que o "busão" seria mais prudente. Vários outros brasileiros também preferiram deixar sua motos do lado de cá da fronteira. E são muitos motociclistas que fazem esta rota - basta comprovar nas janelas de postos de abastecimento entre Campo Mourão e Foz: são dezenas de adesivos de motoclubes, no estilo “estive aqui”. Mostram desde associações de garotas, passando por bandos de tios velhos como eu e até um curioso clube, dos Lentos e Pakatos, cujo lema é “nem velozes, nem furiosos”. Enfim, uma boa amostra da democracia das estradas quando se está sobre duas rodas.
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Entre as muambas paraguaias (limite legal de US$ 300) estavam um perfuminho francês para fazer média com a mulher e uma utilíssima cinta abdominal de motocross. Por apenas US$ 26, voltei de Foz para São Paulo com a pança comprimida, uma postura melhor... Tudo se traduzindo em menor cansaço nos 1.100 km que me separavam de casa. Voltando pela Ponte da Amizade, pego a Fazer no lado brasileiro para uma visita ao marco da Fronteira tríplice onde, do Brasil, se vê a Argentina e o Paraguai. Pode parecer sentimentalismo, mas é emocionante estar bem na “quina” geográfica de três países latinos, olhando onde começa (ou termina) o território de nossos hermanos. Volta pra casa Depois de um dia de passeio e compras no “exterior”, retornar para São Paulo na quarta-feira foi tranquilo, também com uma parada em Londrina (PR) para dormir, já que esta cidade fica na metade do caminho. Com gasolina, a Fazer respeitou a velha regra dos automóveis, de que o consumo com etanol é cerca de 30% em relação a gasolina. Em situações de “cabo enrolado, a Fazer passou a 20/21 km/litro (contra 16/17 km/litro de etanol) e rodando um pouco mais calmamente ela ia para 24 km/litro. Ou seja, um motociclista mais sossegado pode fazer mais de 30 km/litro com gasolina. Cheguei a São Paulo no final da tarde da quinta-feira.
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Como curiosidade, considerando as melhores médias de consumo, o custo com etanol e gasolina foi exatamente o mesmo, de R$ 0,11 por quilômetro rodado. Outra curiosidade menos agradável: exceto na rodovia Castelo Branco, em todas as outras estradas se paga pedágio (metade do preço de um carro) e este custo representou um terço do gasto com combustível. Uma Fazer BlueFlex custa exatos RS 410 a mais que o modelo só a gasolina: a Blue tem preço de tabela de R$ 11.690, contra R$ 11.280 da versão monocombustível (mais o custo do frete). Vale a pena, principalmente para quem mora em regiões onde o etanol tem preço mais convidativo, como no Oeste do Paraná. E também vale pela cara de dúvida dos frentistas nos postos, quando se manda encher com etanol: “Tem certeza? Vai rodar bem só com álcool?" Afinal, motos flex continuam novidade mesmo aqui, onde quase todos carros novos são bicombustíveis. Por Josias Silveira Fotos autor e divulgação Ficha técnica - Yamaha Fazer 250 Blueflex Motor: monocilíndrico, 2 válvulas, 249 cm3, injeção eletrônica, flex, refrigeração a ar; Potência: 21 cv a 8.000 rpm; Torque: 2,1 kgfm a 6.500 rpm; Transmissão: câmbio de cinco marchas, transmissão por corrente; Quadro: berço duplo de aço; Suspensão: garfo telescópico na dianteira (120 mm de curso) e monoamortecida (120 mm de curso) na traseira; Freios: disco simples na dianteira (282 mm) e na traseira (220 mm); Pneus: 100/80 aro 17 na dianteira e 130/70 aro 17 na traseira; Peso: 138 kg; Capacidades: tanque 19,2 litros; Dimensões: comprimento 2.065 mm, largura 745 mm, altura 1.065 mm, altura do assento 805 mm, entreeixos 1.360 mm

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