A imprudência ao volante não é algo restrito a alguns países. Ela ultrapassa fronteiras e se espalha mais rapidamente em lugares onde as populações exibem com “mais desenvoltura” suas falhas de caráter desrespeitando as normas de trânsito, assim como outras regras de conduta. Temos leis que deveria servir de exemplo. Nossos legisladores, entretanto, no afã de fazer bonito, deixaram tantas brechas quanto são os buracos de nossas rodovias que o que deveria servir para punir os infratores, na verdade, pune muito mais as vítimas. O artigo 165 de nossa Legislação de Trânsito alerta que dirigir sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine dependência implica em infração gravíssima, com multa e suspensão do direito de dirigir por 12 meses. Para falar a verdade é “mais fácil encontrar uma agulha no palheiro” do que presenciar a obediência a este artigo.
OPINIÃO: Por que toleramos os abusos no trânsito?
Para engendrar ainda mais o enredo, cientistas canadenses descobriram que fumar maconha três horas antes de dirigir mais do que dobra as chances de um condutor se envolver em um grave acidente. O estudo analisou dados coletados de 49.111 vítimas que sofreram sérias lesões ou faleceram em decorrência de acidentes automobilísticos. O grupo se ateve especificamente aos casos em que foi encontrado no sangue dos envolvidos o tetrahydrocannabionol (THC) - composto ativo da maconha –, e em que estavam ausentes outras drogas e álcool. Também foram avaliados os casos nos quais os motoristas admitiram ter fumado maconha três horas antes dos acidentes. Os resultados ilustraram perfeitamente que, enquanto os que dirigiram alcoolizados estavam mais do que propensos a se envolverem em uma colisão, aqueles que fizeram uso da maconha tiveram seriamente reduzida sua capacidade de operar um automóvel com segurança. Embora não tenham sido avaliadas as quantidades de tetrahydrocannabionol presentes nos casos analisados, as autoridades locais já começaram a se mobilizar para avaliar, durante as blitzes, se os motoristas fumaram ou não maconha antes de dirigir. Diferente do que acontece no teste do bafômetro, que acusa o nível de álcool, o THC é mais difícil de detectar. No Canadá as autoridades adotaram a política de tolerância zero. No Brasil o que se observa são os descasos com as leis e a frequência repetitiva da impunidade. Grande parte de nossos legisladores sequer sabe o que está votando e qual a real finalidade da lei em questão; nosso sistema judicial é moroso e a população vai às ruas reivindicar a liberação de uma droga ilícita. Usar ou não drogas é uma escolha que compete a cada um. O problema é quando o uso extrapola o direito dos demais cidadãos de ir e vir em segurança. Exigir mudanças rápidas, eficazes e concretas - como fazem outros cidadãos espalhados pelo mundo – ainda não faz parte da rotina dos brasileiros. Somos acomodados. Levamos a “paulada” e, ainda por cima, nos reprimimos na hora de exigir intervenções sobre assuntos demasiadamente importantes. É mais fácil acompanhar a luta dos poucos corajosos como meros expectadores, e ainda criticá-los por sua coragem. Enquanto isso, o tempo corre e as mortes continuam... Por Michelle Sá / Fontes: Autoblog / Código Brasileiro de Trânsito

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